Reginaldo Rossi não tirou os óculos escuros nem
mesmo pra entrar no céu. Chegou lá em cima cheio de marra, os cabelos crespos
confundindo-se com as nuvens, e logo procurou a ala de Pernambuco.
Pediu uma cerveja
gelada ao garçom – porque céu que se preze tem que ter cerveja gelada – e disse que hoje, só hoje, não
encheria o saco pra falar das centenas de casos de amor que seu confidente
oficial já cansou de escutar. Aí notou um amontoado de gente chumbregando mais
adiante. Parecia carnaval. Foi lá.
Naquele céu não havia silêncio nem harpa, querubins
nem serafins. No céu pernambucano é sinfonia de sanfona e, se Deus achar ruim,
é capaz de haver movimento emancipacionista pra fundar uma república
independente.
E lá estava Dominguinhos comandando a farra.
Vitimados por um câncer de pulmão, eternizados pela música, levados embora por
um 2013 que deixou a terra mais sem graça e o céu mais animado.
“Saudade, meu remédio é cantar”, disse
Dominguinhos, ao avistar Rossi. “Mon amour, meu bem, ma femme!”, gritou o Rei
do Brega, a camisa aberta até o peito, se dirigindo ao conterrâneo. “Hoje é o
dia do corno, foi bom te encontrar”, continuou Reginaldo Rossi, finado e
afiado. Arlindo dos 8 Baixos, Carlos Fernando e João Silva não se contiveram. A
gargalhada foi geral. “Esse bicho é fogo. Já chega arriando”, disseram, em bom
pernambuquês.
Foi o enlace do brega com o forró, de dois
Pernambucos que são só um, de um par de escolas musicais que nasceram do povo e
para o povo. Um abraço selou o encontro entre ambos.
A multidão anônima logo entoou: “Olha, isso aqui tá
muito bom, isso aqui tá bom demais”. E, no céu do Recife, “o paraíso tropical”
cantado por Reginaldo Rossi, a festa não tem hora pra acabar.
ESCRITO POR :