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Após reunião, Lula hesita em assumir ministério e diz que não precisa de foro especial

O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse à presidente Dilma Rousseff, na noite de terça-feira (15), que precisa amarrar todas as pontas com o PMDB antes de
decidir se assume ou não a Secretaria de Governo. Dilma e Lula voltarão a se
reunir hoje, em café da manhã no Palácio da Alvorada. Na conversa de ontem, que
durou quatro horas e meia, Lula mostrou dúvidas sobre a entrada na equipe e
contou ter sido informado por integrantes do PMDB de que sua presença no
ministério, nesse momento, não daria “governabilidade plena” a Dilma nem teria
o condão de, por si só, barrar o impeachment.
Antes de dar a resposta
definitiva, porém, Lula disse que vai sondar novamente o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL). As ponderações do ex-presidente deixaram Dilma e os
ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo)
surpresos. Horas antes do jantar no Alvorada, Lula havia dito a amigos que
aceitaria assumir a Secretaria de Governo. “Quero saber o que ela espera de
mim”, afirmara.
Apesar dos ‘senões’,
ministros ainda avaliam que Lula pode aceitar o convite de Dilma. A ideia é
que, além de cuidar da articulação política do governo com o Congresso, na
ofensiva contra o impeachment, ele fique responsável pelo Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social. O Conselhão, como é conhecido, foi montado
em 2003, no primeiro mandato de Lula, reunindo representantes do governo, de
sindicatos, movimentos sociais e empresários. Acabou, porém, abandonado por
Dilma.
 Durante o jantar, Lula não escondeu o incômodo
com notícias dando conta de que ele quer entrar no governo para fugir do juiz
Sérgio Moro. “Eu não preciso disso, a esta altura da vida”, disse o
ex-presidente. “Minha defesa eu mesmo faço.” Se for para o ministério, Lula
ganha foro privilegiado de julgamento. Isso significa que, em caso de denúncia
criminal, uma ação contra ele terá de ser julgada pelo Supremo Tribunal
Federal, saindo da alçada de Moro, que conduz a Operação Lava-Jato na primeira
instância.
Lula é alvo da Lava-Jato
e, além disso, Moro será o encarregado de decidir se aceita ou não o pedido de
prisão preventiva contra ele, apresentado pelo Ministério Público de São Paulo,
que o acusa de ocultar um tríplex no Guarujá, reformado pela OAS. O
ex-presidente nega a propriedade desse imóvel e também de um sítio em Atibaia,
que recebeu benfeitorias de empresas investigadas no esquema na Petrobras.
A delação premiada do
ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS), homologada nesta
terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal, também ajudou Lula a hesitar no
convite para assumir a Secretaria de Governo. Nos depoimentos à Procuradoria
Geral da República, Delcídio citou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
e disse que ele teria tentado comprar o seu silêncio. Mercadante negou. Além
disso, o senador apontou o dedo para Lula e afirmou que o ex-presidente “teve
participação em todas as decisões relativas às diretorias das grandes empresas
estatais, especialmente a Petrobras”.
Delcídio disse ainda que
Lula sempre foi muito próximo de todos os tesoureiros do PT e que, “com o
advento da Operação Lava-Jato, continuou a adotar o mesmo comportamento evasivo
visto durante a crise do mensalão.” Em conversas reservadas, auxiliares de
Dilma afirmam que, mesmo sem provas, a delação de Delcídio preocupa o governo e
pode ter forte impacto sobre o processo de impeachment.
Na proposta de
reformulação da equipe apresentada na noite de ontem a Lula, Berzoini atuaria
em dobradinha com ele e seria deslocado para a secretaria executiva do
ministério. O ex-presidente condicionou a entrada na equipe a uma espécie de
carta branca para mudar os rumos do governo e até mesmo a política econômica. A
deputados e senadores do PT, Lula chegou a afirmar que a salvação de Dilma
depende de uma guinada na economia.

Assustado com o tamanho
dos protestos de domingo passado, os maiores da história do País, e com a atual
debandada dos aliados, principalmente do PMDB, Lula avalia que o governo e o PT
precisam anunciar medidas para o “andar de baixo” porque só isso impedirá a
queda da presidente. 
l fonte: Correio Braziliense l
Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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