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Araripinense viajou de Natal até o Fim do Mundo, na Argentina, de moto

O araripinense Clession Marcelino Gomes fez uma viagem de moto, saindo da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, até a cidade de Ushuaia, na Patagônia Argentina, que é conhecida como a cidade do fim do mundo e terra do fogo. O trajeto chega próximo dos 10 mil quilômetros. Essa não é a primeira viagem; ano passado, ele fez uma aventura dessa até o deserto do Atacama, no Chile, e sonha em fazer essa aventura até o Alasca, nos Estados Unidos.

Clession é casado com Sueli, o casal tem um filho e são naturais de Araripina, no sertão de Pernambuco. Hoje, ele mora em Natal, no Rio Grande do Norte, com a esposa e o filho. Quando morava em Araripina, ele foi dono de uma locadora, trabalhou por muito tempo na Ingessel. Sua mãe, dona Iraci, ainda mora na cidade; seu pai, Marcelino, já faleceu.

O primeiro desafio foi convencer a esposa a poder ir para essa viagem. – “Deixei eles em Araripina, voltei de ônibus para Natal, peguei a moto e parti para mais uma grande aventura”.

Na bagagem, ele levou um adesivo da bandeira da cidade de Araripina e pregou na placa do fim do mundo. O adesivo foi um dado pelo amigo Tico da Popy, que é muito amigo da sua família. “Esse adesivo representa uma grande conquista e que sirva de motivação para outros araripinenses; um dia possam pisar também na terra do fogo”, disse.

Neste sábado, dia 04 de fevereiro de 2024, 33 dias depois de ter saído de Natal, no Rio Grande do Norte, o aventureiro araripinense chegou à terra do fogo, o fim do mundo, em Ushuaia, na Argentina.

Clession vai voltar por Araripina, onde sua família e amigos estão à sua espera para comemorar junto com ele a realização desse sonho. De acordo com ele, um grupo de motociclistas da cidade está esperando por ele para o acompanhar na sua chegada e festejar.

O inicio da viagem

A jornada começou no dia 03 de janeiro, primeiro acompanhado de dois amigos até a cidade de Caetés, em Pernambuco. Depois, dali seguiu sozinho, cruzou Pernambuco, Bahia, passou por Feira de Santana, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, até chegar em Foz do Iguaçu, divisa com a Argentina.

As pernoites em meio às paradas ainda no Brasil eram feitas em postos de combustível, onde ele abastecia. Clession conta que explicava a situação, contava um pouco da história e acampava. Montava uma barraca, fazia comida e lavava suas roupas; o banho também era nos postos de combustíveis.

Seguindo pela lendária Rota 40, que é uma das rotas mais bonitas do mundo, passou por cidades como Bariloche, São Martin de Los Andes, El Chaltén, El Calafate, lá é onde tem o Glaciar Perito Moreno, que é uma das maiores geleiras do mundo. Passou pela Villa La Angostura, que é muito bonita, e pela Rota dos Sete Lagos.

Moto quebrou

No meio do caminho, muitos perrengues, alguns mais graves. A moto dele, modelo Himalayan 411 cilindradas da Royal Enfield, quebrou na Argentina, em Colônia. Ele foi até Concepción del Uruguay, que é uma cidade argentina. Lá não tinha scanner, então ele conseguiu um scanner para escanear a moto, só que não tinha peças. Teve que ir para Buenos Aires. Lá passou quase 10 dias também esperando. Ele conta que cobraram um valor absurdo.

“Me cobraram um milhão e oitocentos pesos de orçamento, que equivale praticamente à metade do valor da moto. Consegui comprar um motor por 150 mil pesos argentinos. Chegamos lá, jogamos o motor dentro do carro, entregamos o dinheiro e partimos. Foi a salvação. De 1 milhão e 800 mil pesos, eu paguei 150 mil pesos”, disse.

“Tive muita sorte porque aqui os caras meteram a faca mesmo, me cobraram o valor de 44 vezes mais do que no Brasil. Eu estava negociando no Brasil para eles me enviarem isso pelos Correios até a Uruguaiana, e eu ia buscar de ônibus em Uruguaiana para voltar, sabe? Todo mundo me aconselhava a ir embora e tentar outra vez, porque a moto não tinha mais jeito. Eu acho que procurei uns 4 mecânicos; até tinha um cara que consertava, que fazia estilo Harley-Davidson lá em Buenos Aires, que eu conheci. Ele me deu abrigo, me levou para casa dele, e eu passei o dia todo na casa dele e da família dele, até a mãe dele, que não gostava muito de mim. Depois se apegou a mim e estava até chorando quando eu fui embora; me abraçou, me deu um santinho”, completou.

“A moto também furou o pneu duas vezes no meio do nada, no meio do mato. Aí passou um cara em um trator e disse que dentro de duas horas voltava nesse trator com a câmara de ar. Eu não tinha o que fazer, fiquei lá deitado no meio do mato esperando. Muito tempo depois ele chegou com a câmara de ar, troquei e segui caminho. Depois desse problema, que eu passei dez dias, furou de novo no outro dia o pneu da frente. Aí outro cara passou; ele já morou em São Paulo na época da pandemia, era argentino. Aí me ajudou, pegou o pneu, tirou, levou, aí remendou, trouxe de volta. É sempre assim. Incrível a receptividade do povo argentino, um povo acolhedor, que conserva as tradições, a história. Me ajudaram bastante”.

“O que eu sempre digo, o mais difícil da viagem é iniciar. Se você for pensar na viagem, nos problemas, o dinheiro, você desiste. Uma grande dificuldade é estar sozinho. Tem muita gente me ajudando, tem uns colegas que ficam me ligando, olhando a rota pra mim, dizendo onde é que tem um lugar mais barato, onde é que tem um campo municipal. Mas sozinho é muito difícil”.

“O nome da minha moto é Rocinante, que era o nome do cavalo de Dom Quixote, o pangaré dele. Dom Quixote foi uma das inspirações para as aventuras que eu faço, apesar da loucura que todos chamam a gente de louco por isso, mas era feliz, tinha os seus ideais e vivia para tentar, pelo menos relaxava e ajudava as pessoas, mas não tinha medo de enfrentar o perigo. E os dragões, que na verdade eram moinhos de vento. Mas o processo é o que importa. O dinheiro a gente recupera, tempo não recupera. A viagem em si não é perigosa, tanto quanto ficar sentado no sofá de casa, assistindo televisão; acho que esse sim é perigoso”.

“Uma senhora me deu um santinho que é o ‘Gauchito Gil’. Lá eles têm como um santo, é uma tradição, né, no México, na Colômbia, no Uruguai. Ela me deu esse santinho pra me proteger, e disse que tinha que deixar na moto, que não ia acontecer nada, que eu ia chegar em paz”.

Ao final dessa jornada, eu quero escrever um livro. Estou escrevendo um livro da viagem anterior, que inclusive está no YouTube, que é bem caseiro, mas é mais para deixar registrado. Tem lá “Uma Odisseia no Atacama“, são quatro vídeos, só falta o último episódio. Vou ver se eu escrevo um livro dessa e provavelmente dessa viagem que estou fazendo, passei por muitas situações”.

Histórias como a do Clession são inspiradoras e servem como motivação para muitas pessoas que buscam realizar seus sonhos.

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