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AS COISAS MAIS IMPORTANTES DA VIDA

QBomBom

Por Fred Figueiroa
Existem dias em que é
difícil ser jornalista. Ontem foi um deles. E foi dilacerante. Da imprecisão
das primeiras notícias sobre o acidente em Santos, da angústia pela
possibilidade da presença do ex-governador Eduardo Campos e da sua equipe de
campanha na aeronave e, por fim, do impacto pela confirmação das mortes. Uma a
uma. Eduardo, Percol, Severo, Marcelo…pessoas com quem convivi profissional
ou pessoalmente ao longo da minha estrada no jornalismo.
Nas terríveis horas que
separaram a queda do avião das confirmações das mortes, precisei trabalhar na
condução das redes sociais do Diario. A tristeza foi sufocada pela obrigação
profissional e pela pressão de se manter o tempo inteiro equilibrado na linha
tênue e perigosa entre a velocidade e precisão das notícias.
Multiplicar a notícia
trágica, a mesma que acabou de te ferir, é doloroso. Cada palavra sai pesada.
Mãos trêmulas, coração acelerado, lágrimas nos olhos. Ao mesmo tempo em que
escrevia no Twitter do Diario para mais de 50 mil pessoas que Eduardo Campos
estava mesmo dentro do avião, falava alto: “Caralho, Percol com certeza
também estava”.
Percol no caso era
Carlos Augusto, assessor de comunicação do ex-governador. Um contemporâneo e
amigo do jornalismo, das peladas, das goleadas sofridas com a “seleção da
imprensa”, das cadeiras da Ilha do Retiro e dos alambrados nos campos do
interior. Irmão da inspirada jornalista Ana Braga, com quem dividi páginas
deste jornal durante anos. Casado há poucos meses com minha amiga de faculdade
e de Diario, Cecília Ramos.
Dia desses, Cecília
veio aqui na mesma mesa onde escrevo este texto, pegou no meu braço e, com um
sorriso gigantesco, me contou que estava deixando o jornal e indo para São
Paulo trabalhar na campanha. Essa imagem é uma das que mais passou pela minha
cabeça enquanto encarava as difíceis horas desta triste terça-feira, 13 de
agosto de 2014.
A tragédia nacional é
também a soma de tragédias particulares.
E ainda estavam no
avião o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lira, com os quais
dividi reportagens de todos os tipos. De assassinatos à carnavais. A montanha
russa do jornalismo nos proporciona situações inimagináveis. Mas a montanha russa
da vida é ainda mais assustadora. E estamos nela. Seguimos nela. Aprendemos com
ela. Todos os dias. Até naqueles que nem deveriam existir.
Nos dias
“normais” – que raramente existem no jornalismo, diga-se de passagem
-, divido minha rotina profissional em duas partes. Primeiro, atuo por trás das
redes sociais do Diario. Por volta das 20h30, 21h, coloco o headphone e me
concentro para escrever esta coluna. Costuma ser a melhor hora do dia. Navego
por sites esportivos, leio as principais notícias, vejo tudo que estão falando
nas redes sociais, entro em alguns debates e – quando vejo que o tempo aperta –
volto para o texto propriamente dito.
Ontem foi simplesmente
impossível tirar a cabeça da tragédia e trazê-la para o universo esportivo.
Diversas vezes na minha vida, recorri a velha e definitiva frase de Nelson
Rodrigues “Das coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais
importante”. Ontem, no entanto, só as coisas mais importantes da vida
faziam sentido.
Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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