Segunda principal causa de morte no mundo, o acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença que atinge predominantemente adultos e idosos. Conhecido popularmente como derrame, esta disfunção ainda resulta em sequelas incapacitantes, sendo que 70% não retorna a suas atividades normais e até 50% ficam dependentes de outra pessoa conforme dados da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares.
Segundo o neurologista Dr. Martin Portner, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford, escritor e palestrante, existem três tipos de AVCs: o hemorrágico, onde a parede da artéria se rompe, há uma hemorragia no local cessando o fluxo sanguíneo, e ainda os ataques isquêmicos transitórios, em que não há obstrução definitiva de uma artéria, apenas a interrupção momentânea do fluxo sanguíneo na região, causando sintomas passageiros.
“O terceiro tipo é aquele que ocorre no momento em que a artéria cerebral for subitamente obstruída, por exemplo, devido a uma placa de gordura na parede interna ou qualquer evento que interrompa o fluxo do sangue, sendo denominado AVC isquêmico”, revela.
Para entender melhor como funciona o AVC isquêmico, o neurologista faz a seguinte analogia: “imagine uma árvore repleta de galhos e folhas. Amarre um arame apertado em torno de um dos galhos e dentro de alguns dias as folhas daquele galho se tornarão amareladas. Isso ocorre porque o fluxo de seiva da árvore para as folhas foi interrompido e elas gradativamente morrerão”.
De acordo com o médico, o AVC é um fenômeno semelhante. Se o fluxo de sangue através de uma artéria cerebral for interrompido, os neurônios na região de fluxo de sangue daquela artéria serão danificados e não funcionarão mais.
Causas e fatores de risco
Agora que você entendeu a gravidade desta doença, é importante conhecer e aprender a lidar com as causas ou fatores de riscos que podem aumentar a chances de desenvolver tal afecção.
Conforme o neurologista explica, podemos dividir os fatores de risco para o AVC em dois grupos: aqueles em que podemos intervir (são os fatores de risco controláveis) enquanto o outro não há muito que possa ser feito (fatores de risco não-controláveis). Confira:
Fatores de risco controláveis
- Hipertensão: também conhecida como pressão arterial elevada, é o fator de risco mais importante para evitar o AVC. “A pressão arterial superior a 140/90mmHg, em média, em adultos, já é considerada elevada”, alerta.
- Fumar: este hábito continua sendo a principal causa evitável de morte prematura. “Na maioria dos casos, quem fuma faz também pouco exercício físico e tem dieta inadequada. Vale alertar que o agrupamento de dois ou mais fatores de risco elevam em muito o risco do AVC”, frisa o médico.
- Doença cardíaca preexistente: “especialmente a fibrilação atrial, um tipo de batimento cardíaco irregular, é fator de risco para acidente vascular cerebral. Quem tem doença cardíaca, deve aderir cuidadosamente ao plano de tratamento”, recomenda Dr. Martin.
- Diabetes: esta doença aumenta o risco de acidente vascular cerebral, especialmente para aqueles decorrentes de danos de pequenos vasos sanguíneos. O diabetes tipo 2, aquele que ocorre no adulto, pode ser controlado na maior parte dos casos com dieta e exercícios físicos.
- Uso de drogas: Segundo o profissional, o uso de drogas ilegais, como cocaína e maconha, tem demonstrado em estudos a elevação do risco de acidente vascular cerebral. Algumas dessas drogas afetam diretamente os vasos sanguíneos no cérebro, causando o AVC; outras podem afetam o coração, o que indiretamente também leva a um AVC.
Fatores de risco não-controláveis
- Idade: segundo o médico, pessoas de todas as idades, incluindo crianças, podem ter acidentes vasculares cerebrais. No entanto, o risco de AVC aumenta à medida que a idade aumenta.
- Sexo: o AVC é mais comum em homens do que em mulheres. Na maioria dos grupos etários, mais homens do que mulheres terão um acidente vascular cerebral. No entanto, as mulheres representam mais de metade de todas as mortes de acidente vascular cerebral. Já as mulheres que estão grávidas têm um risco de derrame aumentado. “Também em maior risco estão as mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais, que também fumam ou têm outros fatores de risco, como a pressão arterial elevada”, salienta Dr. Martin.
- Etnia: “o risco de acidente vascular cerebral varia com raça e etnia, sendo que Afro-americanos e hispânicos são mais propensos a ter derrames do que caucasianos”, ressalta o médico.
- Histórico familiar: o risco de AVC é maior se o pai, avô, irmã ou irmão do paciente teve um acidente vascular cerebral.
- Reincidência: uma pessoa que já teve um acidente vascular cerebral ou um ataque cardíaco tem um risco maior de ter um segundo acidente vascular cerebral.
Mais uma vez hábitos como fumo, sedentarismo, além de doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão figuram como agravantes de uma possível doença. Desta forma, o correto é modificar os padrões possíveis, para assim diminuir o risco de desenvolver esta doença.
Sintomas de um possível AVC
Para descobrir se você ou alguém próximo está tendo um possível AVC, é importante ficar atendo à possíveis sintomas. Dr. Martin revela que os sintomas do AVC dependem exclusivamente do território e que as células neurológicas foram afetadas. Confira algumas das alterações possíveis:
- Se isso o derrame acontecer na zona do lobo temporal do lado esquerdo, haverá perda da fala. Ao mesmo tempo, como a coordenação motora é cruzada, pode haver uma possível paralisia do braço e perna do lado direito.
- Se o AVC ocorrer no lado direito do cérebro, a pessoa terá paralisia do braço e perna esquerdas, porém sem prejuízo da fala, já que esta função está localizada do outro lado do cérebro.
- ”Além disso, estas zonas de perda dos neurônios deixam cicatrizes internas, o que por sua vez podem causar convulsões, já que células neurológicas normais reagem mal à presença de cicatrizes internas”, esclarece.
- O neurologista ainda revela que muitas vezes alguns AVCs parecem não produzir sintomas, nos levando a crer que o AVC ocorreu “em uma área silenciosa”. Porém o médico alerta que não existem áreas silenciosas no cérebro, podendo então ter atingido alguma região do cérebro responsável por receber informações cognitivas e emocionais afetando a personalidade e o comportamento.
Ao conhecer os sintomas desta doença, fica mais fácil observar padrões de comportamento diferenciados ou ainda alterações nos movimentos e fala, verificando a necessidade do encaminhamento hospitalar para o início imediato do tratamento.
Diagnóstico e tratamento
Segundo o profissional, para diagnosticar esta doença é necessário a avaliação clínica de um neurologista experiente. Contudo, a confirmação virá pelo exame da ressonância magnética cerebral; neste exame, imagens de vários planos do cérebro são obtidas e a zona em que o AVC tiver ocorrido será visualizada.
No momento do atendimento de emergência, exames como a análise dos sinais vitais como a pressão arterial, seguido da obtenção do eletrocardiograma, dos exames de sangue essenciais também serão realizados, podendo auxiliar no diagnóstico.
Este atendimento imediato e avaliação do neurologista é fundamental o diagnóstico precoce e para a tentativa bem-sucedida de salvar as células cerebrais. “Estudos mostram que se o conjunto de intervenções, incluindo a avaliação na unidade de emergência, a chamada e avaliação pelo neurologista de sobreaviso e a realização de ressonância magnética ocorrerem em até 4 horas, haverá uma possibilidade concreta de reversão do AVC”, relata Dr. Martin.
Já o tratamento do AVC pode ser ao mesmo tempo complexo e com expectativas de reversão limitadas, dependendo de cada caso. “Tecnicamente, o neurologista buscará a reversão da zona de perda da irrigação sanguínea utilizando a diminuição da adesividade das células do sangue (antiagregantes plaquetários ou até anticoagulantes) e terapias de reperfusão, como é o caso da trombólise intravenosa”, informa o médico.
Além disso, serão necessários o auxílio de uma equipe multidisciplinar com fisioterapeuta, fonoaudiólogo e possivelmente um nutricionista buscando aplicar um tratamento para a recuperação dos movimentos e fala do paciente.
Complicações possíveis
As possíveis complicações do AVC incluem eventos gerais, como a queda progressiva da pressão arterial ou o surgimento de infecção em função do organismo debilitado, ou ainda sequelas permanentes pela desativação total (morte) das células neurológicas na região afetada pelo AVC.
”A fala pode ser perdida de forma permanente e a paralisia dos membros necessitará de fisioterapia, mas a recuperação poderá ser demorada. A perda da capacidade de tomadas de decisão ou outros distúrbios de comportamento, jamais poderão ser recuperados”, informa o neurologista.
Como prevenir o AVC isquêmico
Segundo o médico, a medida mais efetiva capaz de prevenir a ocorrência do AVC é o combate, a qualquer custo, dos fatores de risco como o diabete, a hipertensão, sedentarismo e estresse.
”Outro aspecto importante é tentar reconhecer os sintomas do AVC rapidamente, sinais como a perda da fala, paralisia de um lado e confusão mental são os mais frequentes, e então encaminhar a doente para uma unidade de emergência médica, orienta Dr. Martin”.
Lembre-se que informar-se é a melhor ferramenta para evitar e combater qualquer doença. Além disso, assim como quaisquer outras afecções, o AVC isquêmico pode ser evitado se hábitos saudáveis de vida forem seguidos. Busque socorro médico a qualquer sinal de alteração de comportamento ou movimentos, fique atenta!