tomou a missão de colocar frutas no meu café da manhã.
chuvosa, saí do trabalho e passei no mercado para comprar alguns mamões. Na
banquinha, achei só uns poucos, e todos meio feios. Garimpei, escolhi os mais
apresentáveis e acabei conseguindo três, cada um com algum defeito pequeno.
primeiro em dois: uma metade com umas marcas de batida na casca e a outra
perfeita. Comi a parte pior –tive que jogar uma colherada no lixo– e deixei a
melhor sobre o balcão da cozinha. Mesma coisa fiz na segunda manhã, com o
segundo. O último que sobrou na geladeira tinha uns pontos pretos; virei-o na
prateleira de um jeito que escondesse as manchas.
mamão, minha mulher acordou mais cedo –normalmente eu me levanto meia hora
antes– e, quando eu saí do banho, ela já tinha tomado café da manhã e
cantarolava no quarto. Fui para a cozinha e estava lá meu cereal, o leite, o
pão, os frios e uma metade de mamão. Na hora, lembrei dos pontinhos podres e
virei o bendito para ver: imaculado. Minha esposa acabara de ficar com o pedaço
ruim.
meio culpado por não ter ido à cozinha antes que ela. Mas, no segundo seguinte,
pensei que isso seria negar que ela também pudesse fazer algo por mim. Imagino
que tenha ficado feliz por ter saído da cama mais cedo para descobrir a parte
ruim do mamão e escondê-la de mim, a mesma alegria silenciosa que eu tivera nos
dois dias anteriores. Porque, no fundo, um casamento é isso: oferecer ao outro
sempre a melhor metade.