O processo de contratação de Cabañas pelo Tanabi começou com uma loucura. Essa é a definição do presidente Irineu Alves Ferreira Filho para a sua viagem de carro até o Paraguai, que resultou no acerto com o atacante – fora do futebol há quatro anos, desde o tiro na cabeça. O clube disputará a quarta divisão do Campeonato Paulista a partir de abril. Foi uma loucura a minha primeira viagem, fui para lá sem saber de nada. Vi a matéria no GloboEsporte.com e depois no Fantástico, da situação que ele passava, e naquele dia já comentei com um diretor em trazê-lo para cá. No fim de semana seguinte, fui com o diretor para a cidade paraguaia que vimos na matéria e lá iríamos procurar a padaria do pai dele – afirma o presidente Irineu.
Sem saber falar espanhol e sem nenhum contato na cidade de Itaguá, Irineu foi para o Paraguai. O primeiro lugar de parada foi no clube onde Cabañas começou a carreira e estava treinando atualmente, o 12 de Outubro. Lá, um zelador do campo levou Irineu à casa onde morava a família de Cabañas. Mas o jogador não estava, por ter viajado para o Chile.- Conversei com o pai e a mãe, explicamos quais eram as nossas intenções. Eles ficaram desconfiados e não entendiam muito. Até porque ninguém conhecia nem o Tanabi. Mas aí mostramos matérias de jornais do clube e de que o Túlio Maravilha e o Viola já jogaram aqui, aí eles foram entendendo o que queríamos – diz o presidente.
Quase uma semana depois, na sexta-feira passada, o pai de Cabañas entrou em contato com Irineu e disse que o filho tinha aceitado a proposta de jogar pelo Tanabi. No sábado, Irineu viajou novamente mais de mil quilômetros até a cidade de Itaguá para que o jogador assinasse o contrato com o clube. Cabañas assinou com o Tanabi por três meses, para fazer três partidas pelo clube. A primeira será no dia 6 de abril, contra o Olímpia, na estreia do Paulista. Depois enfrentará Fernandópolis e Barretos. Irineu explica que, se depois disso ele receber uma proposta mais vantajosa, pode deixar o clube. Caso contrário, o contrato será prorrogado. Cabañas chega no dia 1º de abril, volta para o Paraguai no dia seguinte para fazer um jogo beneficente e retorna para Tanabi.
– Não vi ele jogando, mas aparentemente ele está bem. Não tinha noção de como estava a vida dele, mas chegando lá fiquei mais sensibilizado. Ele é um ídolo do Paraguai, na época dele na seleção ele era titular absoluto e agora está nesta situação. Ele estava precisando de um auxílio, não é só questão financeira, é uma questão de ajudar o ser humano – afirma o dirigente.Cabañas não joga desde janeiro de 2010, quando levou um tiro na cabeça em um bar quando jogava no América do México. Com o tiro, ele ficou fora da Copa do Mundo, perdeu dinheiro que havia conquistado e está em litígio com a ex-mulher. O paraguaio deverá ficar hospedado em um hotel em Tanabi e treinará com o time normalmente.
Irineu não releva os valores da negociação e afirma que por enquanto o jogador ficará no clube por estes três meses, até para ser avaliado se realmente terá condições de voltar ao futebol. O dirigente diz que agora a meta é buscar parceiros e empresas que ajudem a bancar a vinda do paraguaio.
– Eu já trouxe o Túlio e o Viola para cá. Os dois casos foram iguais ao do Cabañas. Primeiro eu contratei o jogador, e agora vamos atrás de empresas que queiram nos ajudar com este investimento. Por enquanto não temos nada, e estamos procurando, mas se deu certo até agora não tem por que dar errado com o Cabañas, já que a repercussão está sendo bem maior. Irineu afirma que o jogador tem todos os exames que comprovam que ele está apto para jogar futebol, mas que também passará por uma bateria de exames na cidade para comprovar que o tiro na cabeça não será risco para atuar no estadual. O presidente afirma que, antes da contratação, pensou no lado humano de ajudar o atleta.
– Sabia que iria unir o útil ao agradável, de ajudá-lo e também ajudar a divulgar o clube. Espero que ele jogue muito bem e se destaque. Hoje as pessoas no meio do futebol só pensam em dinheiro e se esquecem do lado humano. Ele estava lá no Paraguai, por que nenhum clube de lá o ajudou? Ele está a fim de jogar e tem condições. Eu quero mais é vê-lo jogando bem, e quem sabe um outro clube brasileiro não se interesse por ele.
(Globo Esporte)