Quando duas pessoas se casam é dito que ficarão juntos até que a morte os separe, mas no caso de Vicente de Paula Arantes e Cylma Silva da Boaviagem, nem a morte separou a história marcada por amor, dedicação à família e profundo compromisso com o próximo. Na terça-feira (10), como se tivessem combinado, ele de 98 anos e ela, de 91, terminaram juntos a jornada de 67 anos de uma vida inteira lado a lado.
Parte da família Arantes se reuniu para relatar ao g1 a história do casal que começou em Belo Horizonte e se encerrou em Patrocínio. Um pedaço da memória de Vicente Arantes Junior, Luciano Arantes, Luciano Arantes Junior, Lucas Arantes, Sofia Arantes e Pablo Sanches.
“Minha avó era paciente, evitava conflitos. Eles tinham um compromisso enorme um com o outro. Acho que meu avô cuidou dela até o último momento, como se fosse sua última missão”, contou Sofia, neta do casal.
Vicente e Cylma se conheceram em um escritório de contabilidade onde trabalhavam em Belo Horizonte.
Naquela época, ele estudava Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ela já era professora pelo magistério. E no dia 2 de julho de 1958 começaram a namorar.
A família conta que fotos da época marcam um pouco de como era o casal. Ele, sempre elegante, ela, atenciosa e carinhosa. A capital mineira ainda guardava aquele clima de cidade interiorana, e fotos da época mostram o casal nas ruas, saindo do trabalho de mãos dadas.
“Eram fotos que registravam os mais estilosos da época, hoje em dia tenho certeza que estariam em páginas como no Pinterest”, brincou o neto Lucas.
Tempos depois, o Vicente e Cylma se mudaram e se casaram em São João Evangelista, também em Minas Gerais. E em 1960, se mudaram para o Triângulo Mineiro, onde construíram grande parte da vida em Patrocínio.
Um advogado respeitado, uma mulher de fé e caridade
Vicente se tornou advogado criminalista numa época em que a cidade contava com apenas três profissionais da área. Era chamado para atuar em todo o Triângulo, que na época era descrito pelos familiares como um verdadeiro ‘faroeste’.
Cylma o acompanhava de perto, mas também seguia a própria vocação. Extremamente sensível à pobreza local, se engajou em trabalhos de caridade, organizando ações para arrecadar fundos e ajudar os mais necessitados e se tornou muito querida na cidade.

“Ela era extremamente carinhosa, cuidadosa, uma mulher maravilhosa. Quem a conheceu sabe o coração enorme que ela tinha”, lembrou Sofia.
A professora, que era espírita, manteve viva a doutrina até o fim da vida. Iniciou uma obra social em Palmelo (GO), que se tornou um ponto de assistência social graças à venda de antiguidades que ela colecionava.
Ao lado da mulher, Vicente foi vereador em Patrocínio por vários anos, numa época em que o cargo era voluntário. Ia às reuniões diariamente, envolvido com todas as causas da cidade. Chegou a ser convidado para assumir o cargo de deputado em Brasília, mas escolheu continuar no Triângulo.
“Minha avó dizia que não queria ir para Brasília e que ele teria que escolher entre ela e a mudança. No fim, ele escolheu ela”, disse Lucas.
Amor pela família
Em meio a risadas e lágrimas, os familiares de Vicente e Cylma agradeceram por terem a oportunidade de crescerem em um lar de afeto, cuidado e muita paciência.
Conforme o tempo passou, cada um foi para um lado. Netos nascerem e bisnetos também, mas o desejo do casal de manter a família unida permaneceu.
“Todas as férias eles nos buscavam. Diziam que era o tempo de aproveitar juntos. Cada momento com eles era especial. Eles montavam a mesa com amor, tomavam café da manhã na cama todos os dias durante 60 anos. Minha avó nem gostava de café, mas tomava só para agradar meu avô”, lembrou Sofia.
Eles evitavam andar de avião. Quando parte da família se mudou para Salvador, Vicente dirigiu até lá. Ele adorava dirigir, ela amava a praia. Viveram muitas aventuras assim.