O inquérito das fake news despertou na população brasileira um interesse maior sobre o tema. Na verdade, o problema das notícias falsas tem recebido grande atenção mundial pois pesquisas já mostraram que esse tipo de conteúdo influenciou diversas eleições, resgatou ideias errôneas que já haviam sido descartadas, e tem um alto poder de propagação. Com a internet, qualquer um pode produzir notícias falsas e influenciar um grande público, em casa.
É em meio a essa crise da era das informações que a iniciativa Sleeping Giants, oriunda dos Estados Unidos e agora no Brasil, se propõe a combater as redes de fake news através da internet.
Anúncios digitais – A fonte de tudo.
Com a internet, milhares de pessoas passaram a ter uma voz com alcance sem precedentes na história. Blogs, vlogs, colunas, todo o tipo de material pode ser criado e publicado por qualquer pessoa, a qualquer momento. Embora muitos façam isso por paixão, treino ou vontade própria, esse tipo de conteúdo não poderia receber muito investimento de tempo se não gerasse alguma renda. É aí que entram os anúncios digitais.
Diferentemente de um anúncio na TV ou rádio, os anúncios na internet podem render um valor muito maior para o anunciante. Isso acontece porque as agências de publicidade digital, como a gigante AdSense da Google, podem rastrear diversas informações sobre os usuários, entre elas localização, idade, gênero, interesses de compra, interesses particulares, histórico de pesquisa, histórico de acesso, videos no YouTube, e muito mais.

Com esses dados, a rede de anúncios exibe para cada pessoa um conjunto específico de propagandas com alta probabilidade de clique, e são poucos os usuários que sabem o que é VPN e como utilizar uma para evitar essa coleta de dados, ou seja, anúncios digitais são extremamente lucrativos.
É assim que os blogs de notícias falsas deixaram de ser apenas opiniões de algumas pessoas e se tornaram verdadeiras máquinas de gerar dinheiro. Com conteúdo falso mas altamente alarmante, uma audiência cativa e títulos chamativos, os sites conseguem um grande volume de acessos e, consequentemente, uma grande renda dos anúncios digitais, permitindo que o criador passe mais tempo gerando as notícias e atinja ainda mais pessoas. Se o trabalho do jornalista é divulgar notícias e fatos, o do blogueiro de fake news é desinformar a população.
A iniciativa Sleeping Giants – cortando o mal pela raiz.
Se os anúncios em plataformas digitais são a força motriz por trás dos blogs, então esse deve ser o alvo de quem quer combater esse tipo de conteúdo. Esse é o princípio por trás dos grupos ativistas Sleeping Giants, que hoje atuam em diversos países, incluindo o Brasil.
O grupo identifica anúncios que aparecem em sites de notícias falsas e notifica as marcas responsáveis, com publicações em redes sociais como o Twitter.
Para garantir que sua imagem não seja associada ao conteúdo nocivo, a marca pede à plataforma de anúncio que bloqueie o site responsável e, como consequência, a lucratividade do site despenca. O mecanismo funciona: Em apenas um mês, o grupo brasileiro retirou R$ 440 mil de blogs de fake news.
Sem os anúncios, os blogs não são capazes de se dedicar integralmente à produção do conteúdo, e o risco de um processo judicial se torna maior, o que acarreta custos que o site já não poderá bancar. Inúmeras marcas já se pronunciaram e removeram seus anúncios. A estratégia de publicar no Twitter o nome de cada marca é uma forma de garantir que a pressão coletiva não permita que a empresa simplesmente ignore o pedido do grupo.
A reação no Brasil
O impacto do grupo Sleeping Giants Brasil foi tremendo. Em um caso de repercussão nacional, o Banco do Brasil cancelou seus anúncios à uma rede de fake news, atitude contestada por Carlos Bolsonaro. Diversas redes e plataformas de disseminação sincronizada de notícias falsas tiveram queda dramática de seu faturamento, e diversas pararam de operar, irritando alguns setores do atual governo.
O grupo continua ativo em seu perfil do Twitter, o @slpng_giants_pt e diversos sub-grupos, geralmente focados em um estado específico, já surgiram e começaram suas atividades online.
Pouco a pouco, a iniciativa está minando os alicerces que sustentam uma verdadeira milícia digital de notícias falsas e disparos automáticos em redes sociais. É fundamental o papel dos jornalistas, grupos ativistas e público para garantir que a verdade e integridade das notícias continue na internet.
Conclusão
Com uma ideia simples, mas eficiente, pessoas comuns se organizaram para combater o mal das fake news de forma sistemática e direta. E os resultados falam por si só, as técnicas funcionam. É fundamental lutar pela informação, ciência, e integridade jornalística, especialmente em tempos de grande instabilidade política e social, como o ano em que vivemos. Mais do que nunca, precisamos do papel do jornalista, confira uma pesquisa que afirma que jornalistas passam por um estresse semelhante a uma guerra.
Por Davi Gomes/Techwarn.com