InícioRegião do AraripeAraripinaCultura dos Caretas sobrevive sutilmente ao passar do tempo

Cultura dos Caretas sobrevive sutilmente ao passar do tempo

Nos 15 dias que antecedem a páscoa é colocada em prática uma antiga tradição da cultura popular nordestina, conhecida por “Os Caretas”. Tem simbologia religiosa, social e cultural, na qual homens, mulheres e crianças andam agrupados pelas zonas rurais, fantasiados com roupas artesanais de todas as cores, máscaras de papelão ou convencionais, chicotes, chocalhos, chapéus e pinturas pelo corpo. O intuito das fantasias é de adentrar ao personagem livre de identificação, para assim melhor buscar sua redenção através dos sacrifícios ao pagar pelos pecados cometidos.

Também, carregam consigo sacos de ráfia para o armazenamento das esmolas (alimentos, bebidas, dinheiro, sapatos e roupas usadas) doadas pelos moradores das redondezas que são convidados para o grande evento.

Nas andanças, o principal objetivo é arrecadar itens suficientes para levar adiante a tradicional malhação de Judas, evento que ocorre durante a noite de sexta santa, estendendo-se pela madrugada do sábado de aleluia. O festival acontece em uma zona rural grande e espaçosa (como um campo) onde acontecerão brincadeiras e desafios para todo o público.

Desenho foi feito por Priscila de Alencar, trabalho do ensino médio, no Colégio Santo Tomás de Aquino da Igreja de Fátima em Fortaleza CE

Um local é demarcado para a disponibilização dos alimentos doados, e nele é lançado o desafio de tentar recolher qualquer produto daquele espaço, enfrentando a perseguição dos guardiões (os caretas) com permissão para chicotear o desafiado até um determinado ponto. As chicoteadas representam a punição para quem tenta furtar o alimento e impedir a ceia.

Também, em um poste de 4 a 7 metros de altura, um boneco de tamanho humano é pendurado, simbolizando Judas, personagem bíblico que traiu Jesus Cristo com um beijo, o qual, ao fim da noite será espancado e queimado, como um ato de punição pelo feito.

A mudança e a nova geração

Trazendo para a atualidade, é notório como mudanças aconteceram. A cultura dos caretas está aos poucos caindo no esquecimento. Há 10 anos, os grupos andavam em grande quantidade, as fantasias artesanais mantinham um padrão e a população demonstrava interesse saindo das suas casas para contribuir, participar e incentivar os envolvidos a manter a tradição. Nos dias atuais, os interesses de ambos os lados sofreram variações. Os grupos estão reduzidos, as fantasias fora do padrão e a população na maioria das vezes fecham as portas, escondem-se e não contribuem, o que desmotiva cada vez mais esse pequeno grupo que está lutando pela permanência cultural dos caretas.

No geral, o desinteresse pela proposta de ambos os lados é preocupante, pois, quando uma ação cultural é postergada, parte da história local e regional é reduzida e destinada ao esquecimento. As tradições devem ser mantidas firmemente e colocadas em prática, de forma tradicional e segura, tendo como principal intuito agregar como enriquecimento cultural, e jamais banalizar uma ação que durante muito tempo foi tão valorizada por muitos. Não se trata de viver do passado enquanto evita o progresso, e sim, de valorizar a cultura, mantendo as tradições vivas, intacta na memória da população, em meio a tanto progresso que jamais pode parar.

Autora: Priscila de Alencar Alves

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