O deputado estadual Joel da Harpa (PL) publicou, na internet, um vídeo em que “sugere” que diretores de presídios levem presos para tomar banho de mar na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife (VEJA VÍDEO AQUI!). Na região, onde o banho é proibido, aconteceram dois ataques de tubarão neste mês.
No vídeo, publicado no Instagram, Joel da Harpa disse que estava em frente à igrejinha de Piedade, um dos locais com maior risco de ataques de tubarão. Na gravação, o deputado também contou que, por causa da proibição de banho, não tem ninguém no mar.
“Eu resolvi fazer um vídeo para dar uma sugestão aos diretores dos presídios, para trazerem essa rapaziada para tomar um banho aqui. Pessoal aí que estuprou, que matou, que dá em mulher. Traz para cá para tomar um banho, fazer um dia de lazer”, afirmou Joel da Harpa, no vídeo.
O parlamentar postou o vídeo como story do Instagram, postagem que desaparece após 24 horas da publicação, com a legenda “deixe sua opinião nos comentários”. Entretanto, posteriormente, a postagem teve os comentários bloqueados.
VÍDEO
No início de março, em dias seguidos, dois adolescentes foram mordidos por tubarão na área da igrejinha de Piedade. A vítima do primeiro ataque foi Gleybson Ferreira Herculano, de 14 anos, que teve a perna amputada. A segunda foi Kaylanne Timóteo Freitas, de 15 anos, que teve parte do braço esquerdo arrancada.
Momento em que adolescente de 14 anos foi atacado por tubarão na Praia de Piedade — Foto: Reprodução/WhatsApp
Joel da Harpa é vice-presidente da Comissão de Segurança Pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco(Alepe). Ao g1, o deputado disse que a publicação do vídeo foi uma forma de chamar a atenção para outros problemas.
“A gente quer discutir alguns temas e eu acho que o vídeo traz à tona a questão da população carcerária no estado de Pernambuco. Em 2022, havia 34.590 pessoas, quando, na verdade, deveríamos ter 3.142 vagas. Ou seja, a superlotação carcerária passa das 20 mil pessoas”, afirmou o parlamentar.
Ele também disse que recebeu mensagens de pessoas que “concordaram” com a ideia de colocar presos na área sujeita a ataques de tubarão.
“Outro ponto importante é a gente discutir o endurecimento das leis. A pena de morte é cláusula pétrea da Constituição, mas a gente quer discutir isso, leis mais duras para alguns crimes como estupro, feminicídio. É sobre o endurecimento do Código Penal. Como cidadão, diante de tantos crimes e violência, há uma insatisfação. Muita gente disse que seria uma boa ideia. Se chega ao ponto de o cidadão dizer que é uma boa ideia, grande parte da população está insatisfeita”, declarou Joel.
Repercussão
As diretoras do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jatobá e Deila Martins, enviaram um ofício ao presidente da Alepe, deputado Álvaro Porto (PSDB), afirmando que a declaração é “extremamente desrespeitosa para com os familiares de pessoas encarceradas” e “insinua a prática de tratamento cruel e tortura”.
“Portanto, uma fala inadmissível para ser disseminada ainda mais por um representante do legislativo estadual”, diz o Gajop.
O gabinete também lembra que, segundo o Código de Ética Parlamentar da Alepe, cabe ao presidente da casa “dar conhecimento à Comissão das matérias recebidas ou de fatos noticiados através de quaisquer meios de comunicação que digam respeito ao decoro parlamentar ou à imagem da Assembleia Legislativa” e “tomar as providências que julgar necessárias […] acerca das questões suscitadas”.
Procurada pelo g1, a Alepe informou que, “até o momento, não foi registrado pedido de investigação ou processo por quebra de decoro”. Além disso, a Comissão de Ética da casa não havia sido instituída na nova legislatura até esta segunda-feira (20).
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
