movimentos sociais de formfundaj-ocupeestelitaa tão evasiva e tendenciosa? O
que podemos fazer a respeito disso? Essas foram algumas das questões que
marcaram o encerramento do seminário “Urbanismo, mídia e mobilização popular:
pensando o Recife a partir do #OcupeEstelita”, realizado na noite da última
quarta-feira (20). O evento, promovido pela parceria entre Fundação Joaquim
Nabuco, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Católica de
Pernambuco, buscou sintetizar e aprofundar as discussões trazidas pelo
movimento nesses três meses desde a ocupação do terreno do Cais José Estelita.
E o tema “Mídia, mobilização popular e liberdade de expressão” demonstrou que a
ampliação do debate sobre a democratização da comunicação no Brasil é urgente.
do Departamento de Comunicação Social da UFPE, sugeriu que a mídia está longe
de ser mera noticiadora de assuntos de “interesse público” e possui suas
próprias necessidades de acontecimentos. Para ela, o jornalismo está sujeito à
pressão dos interesses em disputa existentes na sociedade, mantendo uma
autonomia que não se sustenta além do discurso. O resultado é que, ao narrar (e
construir) fatos, a notícia dificilmente supera os limites estabelecidos pelos
setores mais poderosos. Mesmo quando os movimentos sociais perturbam a agenda
midiática, a cobertura vai no sentido de mostrar como as autoridades vão
resolver o conflito e segue uma lógica de repetição até desvanecer e ser
novamente provocada. Já os grupos de maior poder político, que têm garantida a
presença de seus discursos nas narrativas jornalísticas, investem numa
estratégia que condena ou reinterpreta os assuntos trazidos à tona pelos
movimentos, manipulando valores e falando em nome de outros grupos da
população, mesmo que não haja qualquer representação legítima deles. Estratégia
essa que tem sido visível na cobertura da imprensa pernambucana sobre o
#OcupeEstelita. Principalmente quando percebemos que as reinvidicações do
movimento e as irregularidades e ilegalidades apontadas na aprovação do projeto
Novo Recife pela Prefeitura adquiriram menos relevância e frequência nas
notícias do que as informações divulgadas pelas construtoras do Consórcio
(transmitidas repetitivamente sem qualquer sinal de apuração).
ultrapassa a rendição do campo jornalístico à pressão dos interesses dos mais
poderosos e o consequente privilegiamento de seus discursos nas narrativas
veiculadas. Condição que ser explicada pelo fato de que a maioria absoluta dos
meios de comunicação brasileiros são controlados pelo setor empresarial. Na
realidade, por pouquíssimas empresas. Coisa que Juliano Domingues, coordenador
do curso de jornalismo da Unicap, deixou bem clara em sua exposição. Para
demonstrar isso, ele apresentou dados de seu estudo sobre a estrutura do
mercado de mídia brasileiro. Utilizando-se de índices desenvolvidos por Eli
Noam, pesquisador da Universidade de Columbia (EUA), para medir a concentração
da propriedade da mídia, Domingues aplicou como variável a audiência, por esta
ser um elemento importante no setor da radiodifusão. Assim, numa escala na qual
uma pontuação maior do que 500 já indicaria um mercado altamente concentrado, o
Brasil atingiu “míseros” 1011 pontos. “Coisa que Noam não deve nem ter
previsto”, comentou. O fato se deve por o país possuir apenas cinco emissoras
de rede nos canais abertos, sendo que apenas uma delas, a Rede Globo, abocanha
44,6 % da audiência total. Para que houvesse um real equilíbrio de propriedade
da mídia, seria necessária a existência de 13 empresas com a mesma parcela de
mercado. “Quem perde é a democracia e o próprio consumidor de mídia. Porque a
economia prevê que quanto mais competitivo o mercado melhor para o consumidor
final”, analisou o professor da Unicap. “Esse bloqueio que a gente observa
sobre o Ocupe Estelita, entre outros casos, se deve justamente à forma como as
politicas de comunicação são estruturadas. Então, cabe ao Estado, sobretudo na
radiodifusão, garantir espaço para a diversidade de vozes.”
imprensa não escapou da análise feita por Juliano Domigues, que divulgou a
campanha Palavras Têm Poder. Fruto da parceria do Ministério Público com
diversas entidades, o projeto criou um canal de denúncias para abordagens
jornalísticas que ferem a ética e para violações dos Direitos Humanos pela
mídia local. “Durante os fatos subsequentes à reintegração de posse, vi queixas
na Internet sobre o comportamento de alguns blogs – que têm à frente
jornalistas conhecidos do Recife – que escreveram coisas escabrosas. O que
seria um bom motivo para se fazer denúncia formal no Palavras têm Poder “