Após a grande repercussão da matéria da revista Época com a esposa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Conselho Editorial do Grupo Globo tomou “decisão editorial equivocada” e pediu desculpas a Heloísa Bolsonaro e aos leitores pelo “erro” na produção da reportagem. Nela, o repórter João paulo Saconi se passou por um cliente do coaching de online de Heloísa, que é psicóloga. Ao fina de cinco sessões, ele se identificou como jornalista e informou que havia registrado todo o curso, questionado se a esposa do parlamentar gostaria de se pronunciar até a publicação da matéria.
Intitulada “O coaching online de Heloísa Bolsonaro: as ligações que podem ajudar a Eduardo a ser embaixador”, a matéria foi publicada na última sexta-feira (13) e foi duramente criticada pela psicóloga, por Eduardo Bolsonaro, além do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus apoiadores. Eduardo ameaçou, em publicação no Twitter, processar o repórter, o editor-chefe e a diretora de redação da revista.
Em nota divulgada na noite dessa segunda-feira (16), o Conselho Editorial do Grupo Globo diz que “o erro da revista foi tornar Heloísa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching online”. “Heloísa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considera uma figura pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista”, afirma trecho da nota.
O presidente Bolsonaro também reagiu nas redes sociais. Segundo ele, o que, nas sessões, “deveria ficar apenas entre os dois, por questão de ética, agora vem a público”.
“Como toda atividade humana, o jornalismo não é imune a erros. Os controles existem, são eficientes na maior parte das vezes, mas há casos em que uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma reportagem produz um equívoco.
Foi o que aconteceu com a reportagem “O coaching on-line de Heloisa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador”, publicada na última sexta-feira. ÉPOCA se norteia pelos Princípios Editoriais do Grupo Globo, de conhecimento dos leitores e de suas fontes desde 2011. Mas, ao decidir publicar a reportagem, a revista errou, sem dolo, na interpretação de uma série deles.
É certo que em sua seção II, item 2, letra “h”, está dito: “A privacidade das pessoas será respeitada, especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ninguém será obrigado a participar de reportagens”. A letra “i” da mesma seção abre a seguinte exceção: “Pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos, autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e líderes empresariais, entre outros – por definição abdicam em larga medida de seu direito à privacidade. Além disso, aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas e para a definição de suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem atenção. Cada caso é um caso, e a decisão a respeito, como sempre, deve ser tomada após reflexão, de preferência que envolva o maior número possível de pessoas”.
“O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. F
oi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista.
Em sua seção 1, item 1, letra “r”, os Princípios Editoriais do Grupo Globo determinam: “Quando uma decisão editorial provocar questionamentos relevantes, abrangentes e legítimos, os motivos que levaram a tal decisão devem ser esclarecidos”. E o preâmbulo da mesma seção estabelece com clareza: “Não há fórmula, e nem jamais haverá, que torne o jornalismo imune a erros. Quando eles acontecem, é obrigação do veículo corrigi-los de maneira transparente”.
É ao que visa esta Carta aos Leitores. Explicar o que levou à decisão editorial equivocada, reconhecer publicamente o erro e pedir desculpas a Heloisa Bolsonaro e aos leitores de ÉPOCA.”
Douglas Fernandes/Blog do Jamildo/Foto: Reprodução