Na última segunda feira (15) no calor da ocupação do prédio da prefeitura de Petrolina, o prefeito Julio Lossio ousadamente foi ao local do protesto, com o pretexto de negociar com os manifestantes. Não precisa ser especialista em negociação para saber que no meio de um protesto não dá para se chegar à um denominador comum. O correto é chamar uma comissão que represente o coletivo. No entanto, o prefeito foi “pra galera” numa tentativa de mostrar que estaria aberto ao diálogo.
Logo após o contato com os manifestantes, Lossio relatou na Rede Social Facebook, que “dois ou três integrantes do movimento dizem não querer conversa e se comportam de maneira agressiva e violenta, dificultando qualquer forma de entendimento. Reconheço que a maioria busca a melhoria dos serviços públicos, contudo precisamos manter o dialogo pacífico e construtivo”. O prefeito disse ainda que estaria “à disposição de todos os movimentos da cidade, no sentido da melhoria constante da cidadania em Petrolina”.
Atenta às palavras do prefeito a internauta Cris Crispim, foi incisiva. Para ela o prefeito estaria sendo leviano. Segundo Cris ninguém foi agressivo e violento com o gestor municipal. Aliás, a internauta, que é estudante da Univasf, disse que violento mesmo é o prefeito quando prioriza o Nova Semente (que tem custo para a população) e abandona as creches (que são gratuitas). A estudante apontou ainda como violência do prefeito a má qualidade de serviços públicos como transporte coletivo e sucateamento da saúde.
Confira o texto escrito por Cris Crispim:
Está sendo no minimo leviano com as palavras, pois ninguém foi agressivo e violento com prefeito, só disse umas verdades pq não tem quem aguente mais tanta inconsistência nos discursos..promessas, promessas..(acabou a campanha prefeito a hora é de agir). Ficou ofendido pq não tem boa vontade para trazer propostas concretas. Sabe o que é violento de fato, prefeito: violência é cobrar por serviço que deveria ser público, como a educação infantil, construir 100 dessas concessões terceirizadas sem concurso publico (para angariar voto de cabresto) e abandonar os Centros de Educação Infantil,que são gratuitos e deveriam ser ampliados, ao invés de ignorados pelo senhor. Violência é obrigar a população de Petrolina andar espremido em ônibus de péssima qualidade (com uma placa de frota temporária que dura tempos infinitos), é cobrar caro do povo para ele passar por isso em beneficio do lucro do empresário. É o senhor mais fazer pelos empresários do que por quem colocou o senhor como representante. Violência é permitir o sucateamento da saúde e negar assistência básica a população. Violência é a população da periferia viver em meio a esgoto a céu aberto, por causa de rixa sua com a Compesa e o estado. Tem muitas outras agressões e violências causadas, permitidas e ignoradas pelo senhor e sua administração…muito maiores que uma voz de indignação. Aprenda a conversar e se proponha a agir, acostume-se com novas formas de fazer politica, pq a dos tempos dos coronéis (inclusive eu não sei o que um coronel faz como secretário de educação nessa cidade), a politica dos tempos dos coronéis que vc quer reavivar, está com os dias contados.
Em resposta o prefeito questionou, de forma irônica, se a internauta conseguia resolver todos os problemas da casa dela, pois se caso isso acontecesse ela seria o melhor nome para ser prefeita e ainda insinuou que antes de falar ela deveria conhecer melhor a cidade.
Confira a resposta do prefeito Julio Lossio:
Voce escreve bem e tenho lido com atenção.Va conhecer uma das 100 unidades do nova semente. Fique um pouco lá. Observe o trabalho das sementeiras. Converse com as mães. Talvez assim possa reconhecer o programa.Visite uma das AMES, logo teremos mais 5. Veja a evolução que representa ser atendido em uma unidade convencional e uma AME. O Sao Joao foi resgatado com muita forca. Para cada real investido circulam 5 na economia da cidade e a cada ano teremos ainda mais turistas. Problemas temos muitos. Soluções não para tudo.Mas procure enchergar um pouco do que tem sido feito de bom. Será que em sua casa voce conseguiu resolver todos os problemas? Se resolveu é o melhor nome para governar nossa cidade. Na próxima eleição pode ser uma opção.
Na réplica a estudante Cris Crispim foi ainda mais incisiva. Demonstrou que suas palavras eram com conhecimento de causa. “Moro no São Gonçalo, onde tem esgoto histórico”, “Estagiei no CEI (Creche)”, “Participei de mobilização de médicos da AME que reivindicavam melhores condições de trabalho”, foram algumas das declarações da internauta. O prefeito não comentou mais.
Confira a íntegra do segundo texto escrito por Cris Crispim:
Julio, moro no São Gonçalo, onde tem um esgoto histórico. Estagiei no CEI do João de Deus, que tinha um esgoto estourado dentro do parquinho das crianças e as educadoras reclamavam da pouca valorização dada a elas. Conheço algumas novas sementes, são casas adaptadas, algumas em bom estado, outras não. Em todo caso a educação infantil tem que ser levada a sério, com prédios e profissionais preparados (formados antes de começar o trabalho) e sobretudo, ser gratuita. Participei de um mobilização dos médicos da AME do José e Maria em que os próprios medicos e a população reivindicavam melhores condições de trabalho (já era uma situação insustentável, pois não havia sequer medicamentos, prontuários e todos os diálogos possíveis foram buscados). E outra, o investimento nas Ames não deve tirar o direito a saúde básica e preventiva da população. No São João o Sr. gasta milhões (muito mais do em muitos serviços) e a maior parte vai para os cachês de bandas de fora, que não contra que componham a programação, mas pelo menos 30% desse investimento deveria ser para artistas locais, seria justo e fortaleceria a cultura e a economia local. Inclusive essas grandes atrações de fora, serviram muito como atrativo para manter o camarote particular na festa. E a cultura popular vendida nas propagandas(forro de pe de serra e quadrilha) não é de fato valorizada, nem na festa ( as quadrilhas ganham um valor irrisório e dançaram em um espaço inadequado, sem nenhum cuidado) nem no resto do ano. Ou melhor, o descaso com a cultura é tanto que a secretaria apesar de ter contato com a mobilização popular para a aprovação de recurso não vê nenhum centavo para realizar ações de fomento e as politicas públicas de cultura não são efetivadas. Os festivais que são leis, são ignorados. Olha, não espero que o senhor resolva todos os problemas, não… mas esperamos o minimo de boa vontade e seriedade na priorização de politicas públicas que tragam mais benefícios ao povo e as escolhas administrativas e orçamentária busquem a participação popular de verdade. Seu tom de ironia tem intenção de desqualificar o meu direito de criticar e propor melhorias, deveria ter mais respeito e saber ouvi. Não quero me candidatar e falar de politica me é legitimo (e a toda população) sem precisar ter essa ambição. O fato de eu questioná-lo e querer o melhor para cidade é MEU DIREITO COMO CIDADÃ PAGADORA DE IMPOSTOS. Não precisa me mandar conhecer nada, dr. eu vivo nessa cidade. Grata pela atenção.
O grupo de manifestantes de “O Vale Acordou”, por força de decisão judicial já deixaram a prefeitura, mas mesmo assim decidiram continuar o protesto em frente ao prédio. Com certeza, muita água ainda vai rolar. É possível que o prefeito agora aceite sentar com os manifestantes apresentando o que eles chamam de “respostas concretas”. Espera-se também que os integrantes do movimento estejam articulados e com força suficiente para levarem à frente não só as reivindicações, mas também a mobilização. E que se chegue à um denominador comum para que a cidade ganhe com tudo isso.
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