O Samu, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, negou atendimento ao artesão José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, que morreu, na última sexta-feira (13), à espera de uma avaliação médica na UPA da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. A informação é de um amigo de José Augusto, que socorreu o colega e levou até a unidade de saúde.
O porteiro Douglas Batista, que conhecia José há cerca de seis anos, contou em entrevista à CBN que o colega vinha passando mal nos últimos dias e que, na sexta-feira, ligou para ele pedindo ajuda. Douglas disse que chegou na casa do amigo por volta de 19h de sexta-feira. Ele disse que estava sozinho com a filha e que, por isso, tentou acionar o Samu num primeiro momento, mas o serviço médico negou atendimento porque, na avaliação feita ao telefone, não se tratava de um caso grave.
“Às sete horas da noite ele me ligou, só que ele vinha relatando há dois dias atrás que estava passando mal já do estômago, dessa gastrite que ele tem crise às vezes. Subi na casa dele e vi ele no chão. Aí eu falei, mano, vou te levar para a UPA, vou te levar para o médico. No primeiro momento eu liguei para o Samu e o Samu fez todo o trâmite, conversei com o médico, o médico alegou que não podia levar pelo fato de não ser um caso urgente de morte. Eu até ri na hora”, relatou.
A CBN entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo Samu no Rio:
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Capital atendeu uma chamada para o paciente José Augusto Mota da Silva. Na ligação, o médico regulador recebeu informações de que ele estaria lúcido, orientado e se queixava de dor no estômago. Diante do relato, a orientação foi que o paciente se dirigisse à Unidade de Pronto Atendimento mais próxima, já que dor no estômago não se enquadra nas situações de urgência e emergência para as quais o Samu deve ser acionado, conforme orientação do Ministério da Saúde. O Samu Capital lamenta o falecimento de José Augusto Mota da Silva e se solidariza com a família.
Douglas tem uma filha pequena e precisou deixar a criança com um familiar. Após fazer a ficha de atendimento de José Augusto e informar sobre o quadro de saúde dele, voltou pra casa, porque precisava cuidar da menina. Ele conta que soube da morte de José Augusto através de um perfil nas redes sociais e que ficou chocado com a situação.
“Aí passou-se a hora, chegou um momento que eu falei, cara, será que o amigo foi atendido? Aí quando eu vi a mensagem, a matéria na rede social, numa rede de fofoca, eu vi que ele tinha ido a óbito sentado na cadeira. E nisso que eu vi, eu falei, meu Deus! Aí eu fui, entrei na rede social dele, consegui achar a irmã, entrei em contato, ela achou que fosse trote. Aí eu dei a notícia, fui na unidade, reconheci o corpo, pedi esclarecimento, eles alegaram que ele foi atendido lá, só que não chegou a ser atendido lá dentro, porque ele já via óbito na cadeira, só colocaram ele na maca”, contou.
Polícia Civil , Cremerj e outras autoridades investigam o caso
O caso é alvo de investigação da Polícia Civil, da Secretaria Municipal de Saúde, da Câmara do Rio e do Cremerj, que abriu sindicância para apurar as responsabilidades pela morte.
No último sábado, o Secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que a prefeitura demitiria todos os funcionários envolvidos no atendimento e classificou a situação como ‘chocante’. A pasta apura as responsabilidades do episódio.
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro também se posicionou e saiu em defesa de uma investigação cautelosa, com direito ao contraditório para os profissionais envolvidos. O Conselho disse que adotará todas as medidas necessárias para a apuração rigorosa dos fatos, respeitando ao devido processo legal e garantindo o direito ao contraditório e à ampla defesa. Em referência à fala de Soranz, o Cremerj disse que é preciso cautela, para que não se puna indevidamente, inclusive com demissão, médicos que sequer participaram deste atendimento.
A Comissão de Saúde da Câmara do Rio também informou que vai apurar as circunstâncias da morte.