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Juiz recém-empossado no Distrito Federal já foi borracheiro, costureiro e lavador de carros

Dos nove aos 15 anos, o
gaúcho Rolando Valcir Spanholo, ao lado do pai e dos quatro irmãos, consertava
pneus e lavava carros. Agora, aos 38, diz que uniu motivação e disciplina para,
após se graduar em Direito, ser empossado como juiz federal.
Spanholo é de Sananduva,
cidade de 16 mil habitantes localizada no noroeste do Rio Grande do Sul. Ele
conta que foi influenciado por um professor, já perto do final da graduação, a
se tornar juiz. Costumava trocar de roupas com os irmãos para não repetirem
todos os dias o mesmo vestuário na universidade. E assim foi levando até se
formar.
O novo juiz federal
acumulou, durante o tempo que levou para se tornar magistrado, aproximadamente
200 kg de folhas de estudo, xerox e resumos. Um material impressionante. Ele
afirma que a disciplina rígida para estudar veio justamente da condição difícil
de sua família. Ao se juntarem rumo ao mesmo objetivo, os cinco irmãos
conseguiram ingressar em uma faculdade de Direito distante 250 km da casa
deles. As mensalidades eram pagas com o trabalho de fazer bordados e costurar
cortinas e edredons.
Ao se habilitar para
dirigir, Rolando passou a trabalhar também vendendo os produtos feitos com os
irmãos. Ia de porta em porta, passando pelos munícipios da região, e, para
economizar, almoçava dentro do carro, debaixo de uma árvore, comendo fatias de
pão caseiro com frango empanado frio, torradas e água.
Trabalhar e estudar ao mesmo
tempo era difícil para o rapaz. O horário da faculdade era à noite, então
chegava em casa no final da tarde e pegava um ônibus para assistir às aulas.
Nem sempre conseguia tomar banho antes. Nem sempre, sequer, conseguia ir. Não
eram raras as semanas em que ele faltava, em média, por dois dias, o que lhe
fez ficar “de recuperação” em todos os semestres do curso.
Spanholo nunca teve a
famosa “peixada” para galgar os degraus da profissão. Então só
conseguiu fazer a seleção para a Escola Superior da Magistratura, que  oferece cursos de preparação e de
aperfeiçoamento para interessados na área, quando já estava com 22 anos, depois
que um professor seu insistiu. A instituição fica em Porto Alegre, a 367 km de
Sananduva.
A distância se tornou mais
um obstáculo a ser superado. Ao se formar, Rolando passou a ser concurseiro. De
1999 a 2003, quase foi aprovado como promotor, juiz do trabalho, juiz estadual
e procurador, tendo que desistir porque sua esposa dera à luz o filho do casal.
O sonho de se tornar magistrado teve que ser adiado até 2010, quando resolveu
retomá-lo na área federal. Foi difícil para ele, já que havia passado muito
tempo parado e ficado enferrujado.
Até finalmente conseguir
ser aprovado no concurso que o tornou juiz federal, Rolando passou por várias
reprovações. Ainda assim, ele crê que valeu a pena, já que adquiriu experiência
“em calcular e antecipar as notas de cortes das provas objetivas dos
concursos”.
O resultado do concurso
para o Tribunal Regional Federal saiu em novembro de 2014, e Spanholo ficou
entre os 60 primeiros colocados. Dentre seus colegas aprovados, está a
ex-modelo e miss Distrito Federal em 2011, Alessandra Baldini, de 28 anos, e
que enfrentou vários preconceitos por causa de suas ocupações anteriores.

O juiz Rolando diz que não
pretende transformar sua história de vida em livro ou em qualquer outro tipo de
publicação, mas se espanta com a popularidade que alcançou e com a quantidade
de gente que o procura, dizendo que se inspirou nele não só para a carreira,
mas para a vida também.
Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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