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Lis e Mel dão lição de vida um ano depois da cirurgia de separação

Brincar, passear na rua, ir para a escola, comer com as mãos. Esses hábitos banais na vida de qualquer criança, têm sabor de grande vitória para as irmãs Lis e Mel. Há exatamente um ano, as gêmeas que nasceram unidas pela cabeça entravam no centro cirúrgico do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar para um desafio imenso: resistir à rara e delicada cirurgia que as separaria.

Foram mais de 20 horas de operação, seguidas de 36 dias de internação e muita fisioterapia e, a partir disso, é possível constatar, hoje, que essas pequenas brasilienses tiraram de letra. Para a emoção da mãe, Camilla Neves, 26 anos. “É engraçado, porque vai chegando esse um ano da cirurgia e, o que eu não chorei na época, eu choro agora. Hoje, quando paro para pensar em tudo, choro de emoção. É muito gratificante vê-las. E ver o milagre que Deus fez nas nossas vidas. Para mim, elas são um milagre”, conta a servidora do Ministério da Saúde.

Por causa da pandemia de Covid-19, as três têm ficado o tempo todo na casa onde moram com a mãe de Camilla, Maria Vieira, 75 anos, em Ceilândia, e preferem não receber visitas. A conversa com o Correio, então, ocorre pelo telefone. Quando solicitada para enviar uma imagem que melhor represente a vida das filhas após a cirurgia, Camilla pede tempo para pensar e, no dia seguinte, manda a foto das irmãs usando o uniforme da escola e se abraçando, com sorrisos largos no rosto.

A jovem mãe explica a escolha. Sabe que as meninas não estão com o cabelo arrumado e a pose não é das mais fotogênicas. Mas a cena representa a realização do que ela sempre sonhou para Lis e Mel: uma vida comum e repleta de amor entre irmãs, com a possibilidade de se tocar porque se gostam, e não porque nasceram dividindo parte do crânio. “Elas se abraçam o tempo todo”, diz Camilla, sem esconder a felicidade.

Esses abraços são uma das várias “pequenas realizações” das meninas desde que deixaram a sala de cirurgia. Elas reaprenderam a fazer coisas básicas — como controlar o pescoço e engatinhar — e ganharam novas habilidades, como caminhar, falar os próprios nomes e as primeiras palavras, e conviver com os coleguinhas de escola. Aprenderam também a curtir a vida: amam brincar de boneca e passar os dias mais quentes na piscininha de plástico. E como a amizade é grande demais, pedem para dormir no mesmo berço, como fizeram nos primeiros 10 meses de vida.

Enquanto aprendem, porém, Lis e Mel dão várias lições. “Eu achei que eu ia ensinar muito a elas, mas a cada dia que passa são elas que me ensinam. Eu aprendi muito sendo ‘pai de menina’. Tem sido incrível esse primeiro ano. O aprendizado é constante”, comenta o pai delas, o supervisor comercial Rodrigo Aragão, 31 anos. Camilla revela um sentimento parecido. “Aprendi a dar mais valor às pequenas coisas da vida. Quando você passa por um baque muito grande, começa a ver tudo de forma mais positiva. Por pior que seja, tenta ver o propósito daquela situação”, analisa.

Correio Braziliense / Imagem Reprodução

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