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Militante do MST não é homem que quebrou relógio de Dom João VI em Brasília

É falso que um militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) seja o homem que aparece em imagens divulgadas no dia 15 pelo Fantástico, da Rede Globo, quebrando o relógio de Balthazar Martinot, trazido ao Brasil por Dom João VI, durante a invasão de golpistas em 8 de janeiro no Palácio do Planalto. Diversas postagens nas redes sociais afirmam que um jovem que usa a camisa do MST seria o vândalo mostrado no vídeo de câmera de segurança. Um perito que analisou as imagens a pedido do Estadão Verifica apontou diferenças visíveis entre as duas pessoas. Além disso, o MST informou que o rapaz é estudante no Paraná e que a Polícia Federal descartou envolvimento dele no ato de vandalismo.

Após a divulgação do vídeo que mostra a destruição da peça histórica, a imagem do criminoso passou a ser comparada à de um jovem vestindo uma camiseta do MST e que aparece em outra gravação, publicada por um usuário do Instagram, no dia 3 de janeiro. Postagens no Facebook, Instagram e WhatsApp sustentam que “Danilo”, militante pela reforma agrária, seria um “infiltrado” na ocupação da Esplanada se passando por bolsonarista para promover depredação e, assim, culpar membros da direita pelos atos criminosos.

Origem do boato

A reportagem identificou a postagem de onde a imagem do militante foi retirada para compor as peças desinformativas. No dia 3 de janeiro, o usuário do Instagram Jair Pereira postou um vídeo no qual várias pessoas aparecem fazendo uma refeição em um espaço improvisado. O responsável por gravar as imagens diz que o grupo está seguindo para Brasília (DF) e apresenta parte das pessoas. Dentre elas, está o homem alvo da peça de desinformação, que se apresenta como Danilo e faz o gesto de “L” com as mãos, uma referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotada por apoiadores durante a campanha de 2022.

Na data anterior, 2 de janeiro, o mesmo usuário postou vídeos dele e de outras pessoas na posse de Lula (1, 2 e 3), ocorrida no dia 1º de janeiro, apontando que conteúdos sobre a ida e estadia do grupo em Brasília foram postados com atraso, após a data do evento. O responsável pelas postagens forneceu um número de telefone para a reportagem, mas este esteve fora de área durante as tentativas de contato.

Durante a invasão, o responsável pela destruição do relógio está vestindo uma camiseta com a estampa em branco do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Usuários das redes sociais apontam que a vestimenta estaria no ombro de Danilo no vídeo em que ele se apresenta, o que é falso. O militante carrega, na verdade, um tecido grande preto e vermelho, possivelmente uma bandeira.

Perícia demonstra não ser a mesma pessoa

A pedido do Estadão Verifica, o perito audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, avaliou os vídeos em que aparecem tanto o homem quebrando o relógio quanto Danilo. Ele concluiu não se tratarem da mesma pessoa.

Ele afirma ter realizado exame morfológico das imagens, considerada pelo Grupo de Trabalho Científico de Identificação Facial (FISWG, na sigla em inglês) como o principal e mais confiável método de comparação facial. Conforme Caires, trata-se de processo comparativo que se baseia na análise de correspondência de forma, presença e localização de feições faciais, podendo ser global, por meio do exame da face como todo, ou local e regional, por meio do exame específico de estruturas como nariz, boca e olhos.

Em relação ao material analisado, as diferenças entre os dois homens se concentram, principalmente, na região dos olhos, que possuem formatos distintos, assim como as sobrancelhas, mais grossas em Danilo que na pessoa que quebrou o artefato. Por fim, o perito aponta que o bigode do militante do MST é mais grosso que o do homem que aparece no Planalto no dia da invasão.

MST nega participação de militante nos atos

Após identificar que o responsável por gravar o vídeo em que Danilo aparece é do Paraná, a reportagem procurou a assessoria de imprensa do MST no estado, que se posicionou em nota afirmando que as postagens configuram “montagem grosseira”. O movimento confirmou que o jovem que se apresenta no vídeo é militante do MST do Paraná e informou ser um estudante que mora com a família em um acampamento, negando participação dele nos atos terroristas.

Estadão Verifica tentou contato com Danilo, mas o MST informou que não irá divulgar o nome completo ou local de moradia dele para evitar “exposição e risco ainda maior à sua imagem”. Por fim, o movimento afirmou que a Polícia Federal entrou em contato com o militante na tarde do dia 18 e confirmou não se tratar da mesma pessoa registrada nas imagens dos atos terroristas.

A reportagem procurou a assessoria de comunicação da PF, que declarou não se manifestar sobre eventuais investigações em andamento, tampouco divulgar nomes de investigados ou presos. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que acompanha as investigações dos atos, também afirmou não detalhar ou divulgar informações que estão sob investigação dos órgãos competentes.

Não foram identificados infiltrados de esquerda entre os terroristas

Estadão Verifica já checou vários boatos desmentindo a presença de infiltrados entre os apoiadores de Bolsonaro que invadiram e promoveram destruição nos prédios públicos, incluindo um envolvendo o mesmo relógio. Peças desinformativas espalharam que o horário marcado no artefato prova a ação de infiltrados, o que é falso. Além disso, foi provado que ‘sobrinho de Zeca do PT’ não esteve nos atos de vandalismo, que um vídeo usou fotos de presos de El Salvador para alegar existência de infiltrados no local, que postagem distorceu notícia de emissora para sugerir ação de infiltrados e que bandeira do PT que apareceu nos atos terroristas foi furtada no Congresso Nacional.

Matéria do Estadão

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