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Nepotismo: Em Pernambuco, 69 prefeitos têm parentes como secretários

Por Paulo Veras, do Jornal
do Commercio
Assumir uma prefeitura e
lotear cargos com parentes. Antiga, a prática continua bem em voga no Nordeste
brasileiro de hoje. Pelo menos 42% dos atuais prefeitos nordestinos nomeou
algum parente como secretário municipal, mostra uma pesquisa do Departamento de
Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O levantamento
cruzou dados de 1.511 municípios do Nordeste e em 641 deles o gestor municipal
havia colocado alguém da família para chefiar as secretarias de Educação, Saúde
ou Assistência Social; que lidam com a maior quantidade de repasses federais.
Em 15 cidades, as três pastas eram controladas por familiares do prefeito.
Em Pernambuco, pelo menos
37,91% dos prefeitos tinham algum parente na prefeitura. Isso equivale a 69 das
182 prefeituras pesquisadas. “Pernambuco tem um dos menores índices. O maior
número vai estar na Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e Maranhão. Esse tipo
de clã só consegue se organizar porque está em micro e pequenos municípios. A
partir do momento em que a cidade aumenta, passar a ter outras demandas e
outros atores políticos disputando o poder. Em Pernambuco, 70% dos municípios
são de porte médio ou grande”, afirma Vanuccio Pimentel, autor da pesquisa e
coordenador do Laboratório de Políticas Públicas Municipais da Faculdade ASCES,
de Caruaru.
Os números, porém, podem
ser ainda mais expressivos do que os mostrados na tese. O levantamento se
restringe às pastas da Educação, Saúde e Assistência Social porque nas três
áreas existem conselhos ou entidades nacionais que catalogam os nomes dos
secretários municipais. Outras secretarias também podem estar ocupadas por
parentes dos prefeitos nas cidades. Os dados utilizados no trabalho são de
2013, primeiro ano dos atuais mandatos municipais.
Em um levantamento
similar, a pesquisa sobre perfil dos municípios brasileiros feita pelo IBGE em
2013 aponta que existem 1305 primeiras-damas ocupando o posto de secretárias de
Assistência Social no Brasil. Dessas, 459 estão no Nordeste e 34 em Pernambuco.
O objetivo da pesquisa
pernambucana era tentar definir o conceito de clã político: uma parentela que
ocupa nacos do poder para se perpetuar no comando de municípios. Ao JC,
Vanuccio alegou questão de ética na pesquisa para não divulgar o nome dos 69
prefeitos pernambucanos que teriam nomeados os próprios parentes.
Hoje, a legislação impede
que parentes de até terceiro grau do atual mandatário possa concorrer nas eleições
seguintes (primos são permitidos) e proíbe os prefeitos de nomearem parentes
para cargos comissionados que não sejam classificados como funções políticas,
como são as secretarias.
Apesar disso, Vanuccio não
vê perspectiva de que esses clãs deixem de existir em um futuro próximo. “No
final, uma família dessa, num município pobre, controla milhões por ano. E não
existe atividade econômica na cidade que faça frente a esse poder”, diz.
CLÃS POLÍTICOS
PERNAMBUCO:
37,91% dos prefeitos têm
parentes na administração municipal (ou 69 das 182 prefeituras)
56 têm parente em 1
secretaria
12 têm parentes em 2
secretarias
1 tem parentes nas 3
secretarias
NORDESTE:
42,42% dos prefeitos tem
parentes na administração municipal (ou 641 de 1511 prefeituras)
476 têm parente em 1
secretaria
150 têm parentes em 2
secretarias

15 têm parentes nas 3
secretarias
Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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