InícioAraripina em FocoNordeste lidera em chacinas com 1,2 mil mortos, revela estudo inédito

Nordeste lidera em chacinas com 1,2 mil mortos, revela estudo inédito

Um levantamento inédito realizado pela Rede Liberdade e pela Clínica de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), parte de uma contribuição apresentada à Organização das Nações Unidas (ONU), revela um panorama alarmante da violência nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O estudo, intitulado Mapa de Chacinas: regiões Norte e Nordeste, contabiliza 489 chacinas entre 1988 e 2023, das quais 339 ocorreram na região Nordeste, o que resultou em 1.291 vítimas fatais até o dia 28 de setembro de 2023.

Bahia é o estado com o maior número de chacinas, com um total de 103, dos quais 46 ocorreram na capital, Salvador. O Ceará aparece em segundo lugar, com 75 chacinas, incluindo 24 em Fortaleza. Pernambuco registra 37 casos, seguido pelo Rio Grande do Norte, com 39, e Alagoas, com 33. A Paraíba registrou 25, enquanto o Piauí teve 10 casos, Sergipe 14 e o Maranhão apresentou 3 chacinas.

Para Amarílis Costa, diretora-executiva da Rede Liberdade, esses números evidenciam um padrão de violência estrutural contra populações vulneráveis. “Há uma violência direcionada e uma omissão persistente das autoridades em proteger essas comunidades. Esse cenário exige uma resposta urgente e um comprometimento do Estado”, afirma.

A pesquisa revela ainda que as chacinas atingem de forma desproporcional comunidades negras, quilombolas e indígenas, o que indica uma seletividade dos homicídios. Sem dados oficiais detalhados sobre o perfil racial das vítimas, os pesquisadores estimam que a maioria desses crimes ocorre em territórios majoritariamente negros. De acordo com Rodrigo Portela, consultor e um dos pesquisadores do estudo, a violência se concentra desproporcionalmente nessas comunidades. “Este estudo mostra que comunidades inteiras permanecem desprotegidas, e o Estado falha em oferecer políticas de reparação para as famílias das vítimas”, observa.

O estudo também destaca que a ausência de um monitoramento unificado e de medidas de responsabilização reforça a invisibilidade das chacinas. Sem informações detalhadas sobre as vítimas — como raça, idade e condição social — e sem um banco de dados oficial, a compreensão desses eventos permanece incompleta. Os pesquisadores observam que a década de 1990 teve uma subnotificação de chacinas devido à limitação dos dados disponíveis, baseados principalmente em registros secundários e jornalísticos. Somente a partir de 2011, com o aumento da cobertura midiática e o uso mais frequente do termo “chacina” para descrever esses eventos, a base de dados se consolidou e permitiu uma compreensão mais precisa da escala do problema. Essa lacuna histórica, segundo eles, dificulta uma resposta mais direcionada às comunidades afetadas.

Diante dessa falta de dados e da impunidade persistente, os autores do levantamento reforçam a necessidade urgente de um acompanhamento mais efetivo e de uma estrutura de segurança pública que proteja essas populações. “O dado mais importante que se obteve é o de apagamento dessas vítimas, que, ao nosso ver, serve para a manutenção de um projeto de destruição material de corpos e populações julgados como descartáveis e supérfluos, caracterizados como vidas matáveis e sem valor”, conclui o documento. 

O estudo completo está disponível em: https://redeliberdade.org.br/publicacoes/mapadechacinas/.  

Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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