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ONDE TERMINAM OS MANIFESTANTES E COMEÇAM OS VÂNDALOS?

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A morte cerebral do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, de 49 anos (foto), confirmada na tarde desta segunda-feira (10), necessita de uma discussão urgente no país: onde terminam os manifestantes e começam os vândalos?
Não dá mais para aceitar que reações inerentes à cidadania e à democracia possam se misturar com ações de bandidos, de marginais que deveriam estar na cadeia.
Sim, porque esses tais black blocs nada mais são do que isso: marginais. Quem é manifestante e defende seus direitos de cidadãos, vai às ruas de cara limpa, não escondida por baixos de capuzes.
Quem é cidadão e vai às ruas protestar – a exemplo do que aconteceu na última quinta-feira (6) no Rio de Janeiro, em relação a um reajuste na tarifa de ônibus – não depreda o patrimônio público, nem atira rojão contra um profissional de televisão, um pai de família que tem a vida brutalmente ceifada.
Já passou da hora de as autoridades públicas brasileiras acordarem. Estamos praticamente às vésperas de uma Copa do Mundo. Nosso país será o centro das atenções, mas as atitudes de bandidos travestidos de cidadãos não pode macular o que temos de melhor: saber receber bem que nos visita.
Para finalizar, segue abaixo uma carta de Vanessa Andrade, jornalista, filha do cinegrafista Santiago Andrade. Não há como não se comover. Confiram:
Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai. Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!
Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.
Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.
Ensinou-me muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Deixou-me a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.
Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.
Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.
Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.
Obrigada a todos. Ele também agradece. Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai. (Foto: G1/Blog do Carlos Britto) 
Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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