Como
os candidatos à Presidência da República planejam se colocar diante de
um eleitorado cada vez mais exigente e que grita por uma nova forma de
fazer política.
Os
100 milhões de eleitores e aqueles três candidatos que concorrem de
verdade à Presidência da República em outubro de 2014 terão muitos
encontros e desencontros antes que cada cidadão brasileiro tome o
caminho das urnas. As mobilizações populares que surpreenderam o País em
junho e as últimas pesquisas de opinião emitem um recado muito claro: o
Brasil quer mudanças. Não necessariamente uma troca de comandante, mas
um novo jeito de comandar e, sobretudo, um outro horizonte a perseguir.
Portanto, sairá vencedor das urnas em 2014 aquele que se mostrar capaz
de levar o País adiante com uma forma de governar que atenda às demandas
cada vez mais concretas.Os
números, inicialmente favoráveis à presidenta Dilma Rousseff, não
significam muito nesse início de 2014. Seu governo conta com aprovação
superior a 60%, a intenção de voto beira a casa dos 45%, mas 66% dos
brasileiros esperam que as coisas não continuem como estão. E é esse
último percentual que serve de combustível tanto para os opositores que
já estão com o bloco na rua como para aqueles que não assumem uma
eventual candidatura, embora não fechem as portas para essa alternativa,
como é o caso do ministro presidente do STF, Joaquim Barbosa.
eleitor de que é o melhor candidato, o senador mineiro Aécio Neves, do
PSDB, se colocará como o “único” de oposição, lugar que ocupa desde o
primeiro mandato de Lula, e lançará ao País um programa de governo que
faça um claro contraponto às gestões petistas, principalmente no que se
refere à gerência dos recursos públicos. Pesquisas encomendadas pelos
tucanos mostram que o eleitor quer um governo eficiente. As enquetes
disseram aos tucanos que não importa o matiz ideológico do candidato.
Importa, segundo os dados coletados pelo partido, o gerenciamento do
setor público. A leitura feita pelo PSDB diz que não se trata mais de
prometer escolas, como nas últimas campanhas, mas de mostrar como fazer a
escola já existente ter qualidade. O mesmo vale para a saúde e para a
segurança pública. Na economia, o projeto de Aécio é se apresentar ao
eleitor como a alternativa mais confiável para a captação de novos
investimentos internos e externos. Ele fará duras críticas aos esquemas
de corrupção que dominam o noticiário e ao que chama de aparelhamento do
Estado promovido pelo PT. “O eleitorado precisa ser lembrado que a
presidenta é do PT”, tem dito o senador nas reuniões com os principais
assessores. No início de 2014, Aécio vai definir os nomes que serão
responsáveis pela estratégia de comunicação de sua campanha. O tucano
descarta a possibilidade de contar com um marqueteiro que tenha um
superpoder. “Vamos trabalhar de forma colegiada. O candidato não pode
ser refém de um guru da propaganda”, disse Aécio a assessores. Nas
últimas semanas, o senador tem intensificado as conversas com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deverá ser um dos
coordenadores da campanha. Ao contrário do que aconteceu nas últimas
três disputas, o PSDB não irá esconder o ex-presidente. Pelo contrário,
FHC terá participação ativa na campanha de Aécio.
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Com a ajuda de Lula, Dilma procura tentar fechar acordos que lhe garantam mais da metade do tempo de tevê |
oposicionista, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB,
ganhou musculatura com a chegada de Marina Silva às suas fileiras. Como
participou do governo de Lula e defende os avanços sociais ocorridos nas
gestões petistas, planeja se apresentar como o líder capaz de fazer as
mudanças reclamadas pelos brasileiros de forma segura, sem rupturas ou
quebra de programas como o Bolsa Família, por exemplo. “O
desenvolvimento é um processo. Avançamos com a estabilidade econômica
obtida pelos governos de Fernando Henrique e com os governos de Lula e
Dilma conquistamos importantes passos na questão social. Agora é preciso
um novo salto. O Brasil não está satisfeito e quer mais”, tem dito o
candidato.
Campos pretende consolidar a aliança com o PPS – partido que parece ter
retirado da área de influência dos tucanos – e busca novos parceiros
para tentar obter maior tempo no horário eleitoral de rádio e tevê. Ele
ainda aposta que possa ter a seu lado setores que hoje estão na base de
apoio do governo como o PDT e o PTB. Menos conhecido dos candidatos, a
propaganda eleitoral tem, para o governador de Pernambuco, uma
importância maior do que para seus oponentes. A mensagem será a de
continuidade sem continuísmo. Já no QG governista, a maioria dos
analistas acredita que haverá um retorno dos protestos, inclusive
durante a Copa, mas aposta nas boas respostas que o governo tem a
oferecer. O emprego e a renda continuam de pé como os trunfos mais
vigorosos de Dilma Rousseff para manter a fidelidade de um eleitorado
que Lula cultiva desde 2003. O salário mínimo será reajustado em 2014
com ganhos reais acima da inflação e os programas sociais mantêm seu
inegável poder de atração. O programa Mais Médicos será apresentado como
uma resposta bem aceita para populações que não possuem um único doutor
para zelar por suas dores e doenças. Para o início do ano, a campanha
petista está prestes a amarrar um acordo capaz de garantir quase a
metade do tempo na tevê, uma vantagem sempre considerável.
que tem preocupado os articulistas de Dilma. Seus quatro anos de
governo marcaram uma convivência difícil no Congresso, em especial com o
maior aliado, o PMDB, com uma estrutura capilar para pedir votos na
porta de casa do eleitor – desde que a máquina esteja com vontade de
fazer, embaixo, aquilo que se acerta em cima. Tratado de modo que julga
oportunista e interesseiro, o PMDB ameaça responder na mesma moeda. Pode
apoiar Dilma quando considerar que vale a pena, mas não fará o menor
sacrifício se considerar que o risco é maior que o benefício.
petista, o julgamento sobre o mensalão do PSDB-MG e as investigações
sobre o propinoduto do metrô paulistano são temas que poderão favorecer a
candidatura de Dilma. “Em caso de emergência, poderemos usar esses
casos e mostrar que, no que diz respeito à gestão e à ética, eles não
diferem daquilo que nos acusam”, disse um líder nacional do PT na
quinta-feira 26. No embate com Eduardo Campos, os petistas acham que
será difícil ao governador de Pernambuco fazer oposição a um governo que
lhe forneceu recursos necessários para se tornar um presidenciável com
vida própria. Num país que assistiu à emergência do “novo”, os próximos
dez meses irão mostrar se alguém é capaz de decifrar a mensagem que os
brasileiros trazem dentro de si.