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ARARIPINA: DA FAZENDA À VILA SÃO GONÇALO

Por Everaldo Paixão

Tem-se por tradição oral que as terras da Fazenda São Gonçalo perteceram ao Visconde de Parnaíba, Manoel de Souza Martins que as vendeu a Manoel Félix Monteiro, paraibano, casado com D. Theotônia Leite Monteiro (ou Theotônia Leite Teixeira). Essa versão não pode ser documentalmente comprovada.

Em 30 de janeiro de 1854, o Imperador D. Pedro II, deu ao Brasil um regulamento, para execução da Lei nº 601, de 18.09.1850, que determinava o registro das terras de todo o império. Para o cadastramento, o Regulamento marcou um prazo, de 1º de janeiro de 1858 a 31 de dezembro de 1859, de acordo com o Art. 91, Capítulo 9º. No prazo de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1860, poderiam ser feito registros, mas com o pagamento de multa (art. 92).

Os vigários das freguesias foram incumbidos de procederem os registros. A Fazenda São Gonçalo fazia parte da freguesia de Ouricuri, de onde era o vigário colado. Pe. Francisco Pedro da Silva. Foi ele quem registrou as terras da jurisdição dessa freguesia, num total de 1.349 registros que vamos encontrar referência á Fazenda são Gonçalo, assim como a outras fazendas que hoje constituem distritos, povoados, fazendas e sítios de Araripina: Morais, Nascente (Olho D’Água), Alegre, Água Fria, Sipaúba, Queimadas, Mulungu, Conceição, Flamengo, Tamboril, Alto Alegre, Burro Morto, Baoxa Verde, Cavalete, Santa Cruz, Campina e muitos outros. Relativamente a São Gonçalo, há registros com a denominação de fazenda, sítio e saco.

A região da Fazenda São Gonçalo era pouco povoada. Somente quatro pessoas deram a registro posses de terras na dita Fazenda: Reginaldo de Castro Bittencourt e sua mulher Joaquina Maria de Castro, um sítio denominado Semembu, nas terras da Fazenda São Gonçalo, (registro nº 265); Manoel Ferreira de Oliveira Júnior e sua mulher Francisca Raimunda de Jesus, três posses e terra na Fazenda São Gonçalo, extremando ao nascente, com a Fazenda Santa Cruz e com a Serra do Araripe e com a mesma Serra ao poente e ao norte; ao sul com a Fazenda Flamengo (registro nº 632)….(e as distribuição de terras continuam)

Seja como for, a Fazenda São Gonçalo foi adquirida por Manoel Félix Monteiro do Visconde de Parnaíba.
A construção das casas nas cercanias da capela deu lugar ao surgimento do povoado e para lá acorriam pessoas e famílias das mais diversas providências. O Pe. Francisco Pedro, de Ouricuri, duas ou três vezes por ano, vinha celebrar missa na capela e administrar os sacramentos, acontecimento sempre muito concorrido.
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Muitos outros sítios menores integravam a Fazenda São Gonçalo. Nazaré, que pertenceu a José Rodrigues Nogueira, José Capitão, descendente de Daniel Rodrigues; ao atual Zé Martins, que foi de Raimundo Bom e de José Martins de Alencar, este proprietário das terras de Sahuém; São Francisco, de Valdevino Cesar; Boca da Mara, Bolandeira e Lambedor, que pertenceram a José Pedro da Silva; Cavalete, de Francisco do Carmo, Torre, de Umbelino Gomes; Canastra, de Leopoldo Cirilo; Jardim, de Adrião Claro; Massapê, da Família de Fausto França e de José Mariano; Gameleira, de Antonio Lacerda Paixão; Caldeirão, adquirida por João Jacó; Iracema, de Francisco Pedro da Rocha; Baixio, de Antônio e Honório Martins; São Paulo, da família de Ângelo Dias; Altamira, de Euclides Benício; Inácio, de Faustino e João Guardião; Minador, da Família Coelho; Saúna, que de José Marins e Antônio Praxedes; Alagoinha, da família de Vítor José Modesto e de Alexandre Arraes; Ventania, de Pedro Barros; Patos, de João Gonçalves; Campina, de Abílio José Modesto; Caroá e Teju, dos filhos de Vítor Modesto e outros.

No último decênio do século passado, por causa da construção da capela, a migração para a Fazenda São Gonçalo foi muito grande e já era um povoado de umas vintes e poucas casas, com uma população de aproximadamente 300 pessoas.

O Dicionário Chrorographico, Histórico e Estatístico de Pernambuco registra São Gonçalo como uma povoação situada no noroeste e a 85 km de Ouricuri, quase no limite do município com Piauí, possuindo 40 casas, uma capela de invocação do povoado e uma feira aos domingos.
A Lei Orgânica dos Municípios, nº 52, de 03 de agosto de 1892, deu autonomia política a Ouricuri e São Gonçalo figurar na sua formação administrativa como Distrito, porque era um povoado que ficava distante da sede. Já não se falava mais na Fazenda São Gonçalo.

DE DISTRITO À VILA – Novamente a distância da sede do Município favorece São Gonçalo. É que a Lei Estadual nº 991, de 1º de julho de 1909, que tratou da divisão administrativa do Estado, deu a categoria de vila a todos os distritos municipais, que constituíssem povoações distintas da sede do município a que pertencesse (art. 3º, § 4º).

Nessa época, São Gonçalo, além da igrejinha e do cemitério, contava com as seguintes casas: a de dona Joaninha, onde hoje é a casa da viúva de Alexandre Alencar (D. Sinhá); a de Sizenando, ao lado da casa de seu Dino; a de Antônio Argentino, onde é a casa de Nilo Arraes, todas na atual rua Joaquim José Modesto; um outro no local onde é hoje a Fábrica Oriente (nela, por muitos anos morou Luiz Barreto); a casa do Cel. Pedro Cícero, onde foi edificada a igreja nova; na atual Rua José Barreto de Souza Sombra, existiam as seguintes casas: a de João Pedro da Silva, onde é a Cearense; a de Roldão Coelho, duas de Joana Lavor Papagaio, a de Galdino Pires, onde tem início a Rua Sete de Setembro, a de Manoel Mestre, a de Antônio Paixão, a de Miguel Coelho, a de D. Mariquinha, onde é a Câmara Municipal, e, mais para baixo, a de Antônio Pires de Holanda, construída em alvenaria e na frente, a casa de João Rodrigues Nogueira, descendente de Daniel Rodrigues; na atual Rua Cel. Antônio Modesto, existiam 3 casas: a do próprio Coronel, onde é o hotel, a de Antônio Dias, onde é a casa de seu Joaquim Alexandre Arraes, ficavam a casa de Elias Gomes, duas de Antônio da Penha, duas de Ângelo Dias, uma de Idalina da Penha, uma outra bastante deteriorada e, finalmente, a casa de Galdino Caboclo, posteriormente adquirida por Senhor do Sauhém; onde é a Praça Frei Ibiapina, por trás da igrejinha, ficava a casa de Joaquim Menino (onde é a casa de seu Arraes), ao lado, de D. Raimundinha; a casa de Manoel Antônio ficava na atual rua D. Vital e a casa de Trajano, onde é o prédio da Cooperativa; no local da Cadeia, era a casa de Vicente Menino.

Além dessas casas, havia a Casa da Feira, galpão construído em frente á igrejinha, em torno do qual foram sendo edificados quartos, para os estabelecimentos de casas de comércio, bodegas, cafés e lojas, formando o centro comercial, que por muitos anos, foi conhecido simplesmente como O Mercado.

Com a chegada de novos habitantes a vila se expandiu, ocupando as construções os espaços vazios ao derredor da capela. Nas duas primeiras décadas do século, ocorreram grandes migrações para São Gonçalo. O seu bom comércio, a fertilidade do solo, bons pastos para a criação, as perspectivas de progresso da vila e sobre tudo a hospitalidade acolhedora e cativante de seus moradores, atraíram gente das mais diversas regiões, não só do Estado, mas principalmente do Ceará. Gente do melhor quilate. Aí chegaram e ficaram. Com o seu trabalho e entusiasmo, contribuíram para o desenvolvimento da Vila. Criaram ou constituíram família, deitando raízes na acolhedora terra de São Gonçalo.

Fragmento do Livro Araripina – História, Fatos & Reminiscências
De Francisco Muniz Arraes

Damião Sousa
Damião Sousa
Diretor de Jornalismo e Marketing
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