Um casal de homens de São Paulo registrou um boletim de ocorrência por homofobia após uma empresa de convites de casamento do interior do estado se negar a prestar serviço alegando não fazer “convites homossexuais”.
Os noivos Henrique Nascimento e Wagner Cardoso foram à delegacia na madrugada desta quarta-feira (24).
A história repercutiu nas redes sociais e viralizou após a amiga de um dos rapazes postar o caso no X (antigo Twitter).
Ela divulgou um print da conversa dos noivos com os responsáveis pelo Jurgenfeld Ateliê. Na mensagem, a empresa pede para o casal “procurar uma papelaria que atenda a necessidade” deles.
A amiga dos dois também compartilhou o posicionamento que o ateliê chegou a postar nas redes, mas apagou horas depois.
Em vídeo, os responsáveis pela empresa justificam a atitude como “questão de princípios”. Os donos ainda afirmam que foram “retalhados” pelo casal após negarem o pedido.
“Acho engraçado porque quem tacha (sic) as pessoas de homofóbicas dizem que as pessoas que são “homofóbicas” têm que aceitar o seu posicionamento, mas, ao mesmo tempo, não percebem que o argumento que elas usam para validar aquilo que acreditam é o mesmo argumento que as acusa também. Que nós temos que aceitar aquilo que elas são, mas as pessoas não podem aceitar que nós fazemos dessa maneira”, diz um dos proprietários, no pronunciamento que foi apagado.
Na legenda da mesma postagem, o casal fala em “heterofobia” e diz ter chegado ao ápice por não aguentar mais críticas sobre não realizarem “casamentos ou eventos homossexuais”.
Há 12 horas, o perfil compartilhou um pedido de “apoio e de oração”, pois estariam recebendo mensagens ofensivas.
Ateliê pede apoio e orações em rede social após caso de homofobia vir à tona — Foto: Reprodução/Instagram
Também nas redes sociais, o casal que teve o serviço negado fez diversas postagens em repúdio ao acontecimento e ainda comentou a ida à delegacia. Nascimento diz ter tido “um sentimento horrível de ir à delegacia”.
“O sentimento que eu tive pra mim ali na delegacia era que eu que tinha cometido um crime e eu que estava errado ali”, disse em publicação. Ele afirmou que os policiais não deram abertura para ele explicar e relatar tudo o que aconteceu e, por isso, fará um novo registro do B.O.
Em entrevista ao g1, Cardoso contou que sentiu um despreparo dos policiais. “A gente estava ali exercendo o nosso direito”, diz. “Não fui eu que inventei a lei e agora a gente tem que brigar par fazer um B.O.?”
O caso foi registrado no 73º Distrito Policial, do Jaçanã, Zona Norte da capital.
O g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre o caso, ao que eles responderam: “O caso mencionado foi registrado no 73° DP (Jaçanã) e remetido para a Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância (Decradi) para o prosseguimento das investigações. Dois homens, de 28 e 38 anos, relataram que solicitaram o orçamento para fazer convites de casamento junto à uma empresa, que recusou prestar o serviço, devido à orientação sexual das vítimas. O Decradi já contatou as vítimas e investiga o crime de discriminação”, sem comentar o atendimento relatado pelo casal.
Sobre o ateliê, o noivo comentou que se sentiu no século XII. “Pensei, ‘gente, como eles são ignorantes, como que uma pessoa não enxerga isso e me dá uma resposta tão amadora?’.
O que diz o Jugenfeld Ateliê
“Existe “heterofobia”? Tai uma pergunta que deveria ser introduzida nos livros de filosofia desse século diante de tantas barbares [sic] que temos visto.
Hoje, chegamos ao nosso ápice! Não aguentamos mais ter que aguentar tantas críticas e questionamentos sobre o fato de NÃO REALIZARMOS casamentos ou eventos homossexuais, como dissemos no vídeo acima.
Quando começamos nossa empresa estabelecemos princípios dos quais lutaremos até o fim, independentemente da opinião da maioria da sociedade ou qualquer baboseira dessas que todo mundo tem falado hoje em dia. Aqui, na nossa empresa acreditamos na FAMÍLIA COMO ELA É e não estamos pedindo pra ninguém que acredita ao contrário mude de pensamento ou de posicionamento, ao contrário, se você é mulher e casou com mulher, continuem casadas, se você é homem e casou com homem, então por favor continuem casados, porém AQUI nós fazemos dessa forma e será dessa forma.
Não esqueçam que vocês pedem por uma inclusão que aceita os “diferentes” excluindo os “diferentes” de vocês. Coloco “diferentes” entre aspas porque o fato de você ser homossexual ou heterossexual não te faz melhor ou pior do que ninguém, por isso, você não merece privilégios ou benefícios por isso.
Se fossemos uma empresa que faz apenas casamentos homossexuais e não faz casamentos heterossexuais, seriamos politicamente corretos e estaríamos arrasando de orçamento da galera que assiste Globo e escuta Anita, porém AQUI NAO FUNCIONA ASSIM.
‘E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.’ Genêsis”.
Sob supervisão de Lívia Machado
Fonte: g1