Agosto, um mês de inverno no hemisfério sul, é tido como um momento
trágico na política presidencial brasileira. Getúlio Vargas, o grande
populista, suicidou-se em agosto de 1954. Juscelino Kubitschek, que construiu a
capital modernista Brasília, morreu em um acidente de carro em agosto de 1976.
E na quarta-feira passada, Eduardo Campos, um dos principais candidatos na
eleição presidencial de outubro, morreu quando seu avião fretado caiu durante
mau tempo. A morte de Campos não é apenas trágica: ela muda a dinâmica de uma
eleição já muito disputada e, com isso, o destino provável da segunda maior
economia emergente do mundo.
o menino de olhos azuis da política brasileira. Ele misturou carisma com
sólidas habilidades de governo quando comandou o estado de Pernambuco. Também
misturou com sucesso a linguagem dos negócios e desenvolvimento econômico com a
do meio ambiente e do bem-estar social. Muitos viam o político de 49 anos de
idade como um futuro presidente – mas não este ano. Campos estava em um
distante terceiro lugar nas pesquisas, mas cultivava com entusiasmo uma imagem
nacional para a próxima eleição, em 2018.
deste ano foram uma corrida de dois cavalos. A presidente Dilma Rousseff, do
PT, liderava as pesquisas, apesar da estagnação da economia, do aumento da
inflação e de uma crescente sensação de mal-estar nacional. Em segundo lugar,
mas ganhando terreno, estava o centrista Aécio Neves, do principal partido da
oposição, o PSDB. Também ex-governador, Aécio continua sendo o favorito do
mercado financeiro: a bolsa de valores sempre sobe quando crescem as intenções
de voto no candidato. A trágica morte de Campos, no entanto, transformou a
eleição em uma corrida de três cavalos, ao alçar a companheira de chapa, Marina
Silva, a uma posição de frente – seja como uma potencial “kingmaker”
(quem coroa o rei) ou mesmo como candidata de direito.
ambientalista de princípio, já tem um perfil nacional e apelo generalizado (ela
só se juntou à campanha de Campos depois de não conseguir formar um novo
partido político a tempo para esta eleição). Graças a ter concorrido à Presidência
em 2010, quando teve 20% dos votos, Marina tem índices de aprovação mais
elevados do que Aécio, que concorre pela primeira vez. O tucano, agora, terá de
fazer campanha em duas frentes.
ameaçada. Embora Marina acredite em algumas medidas favoráveis ao
mercado, como um banco central independente, Dilma não pode acusá-la de ser um “neoliberal
indiferente “, como ela faz com Aécio,
porque Marina já
foi ministra no governo do PT. Além
disso, a popularidade de Marina diminui as esperanças de Dilma de ganhar a
eleição no primeiro turno. No segundo turno, Marina poderia, então, liderar uma
votação “todos contra Dilma”.
Campos, ainda não confirmou formalmente a indicação de Marina, e tem até 22 de
agosto para decidir. Ela esperava passar o funeral para declarar suas
intenções. O mais provável é que o partido, que carece de uma alternativa
plausível, endosse sua candidatura e que ela concorra. Era para Marina ter
entrado na aeronave de Campos e, como cristã evangélica, ela pode muito bem ver
a mudança de planos de última hora como uma intervenção divina.
oferecem poucas pistas sobre o que tudo isso pode significar para a economia.
Desde o acidente, o mercado de ações brasileiro oscilou violentamente, mas
terminou essencialmente estável em cada dia. Ainda assim, uma coisa é clara. Se
Marina concorrer, suas bandeiras de “renovação política” e
“terceira via” terão imenso apelo em um país dilacerado pela
insatisfação com o status quo, como mostraram os protestos de rua do ano
passado. A disputada eleição do Brasil está prestes a ficar mais quente ainda.