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Pernambuco perde seu poeta e cantor João Silva, parceiro de Luiz Gonzaga


O compositor João
Leocádio da Silva, João Silva, 78 anos, pernambucano de Arcoverde, foi
encontrado morto, no apartamento em que morava, no Conjunto Pernambucano, em
Boa Viagem. A provável causa foi um infarto. Ele estava sozinho em casa. Sua
companheira tinha viajado no dia anterior para Aracaju.
A cantora Walkiria,
muito amiga do compositor, que mora em um prédio próximo, disse que estranhou
porque há um dia não via: “Do meu apartamento dava para ver ele em casa. E,
quando saía para fazer caminhada ou ir ao supermercado, sempre esava
encontrando com ele”, comentou a cantora, uma das primeira pessoas conhecida a
chegar ao apartamento de João Silva.
O compositor foi
agraciado com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2012. Ele foi um dos
principais fornecedores de músicas para Luiz Gonzaga, que tem mais de 100 obras
suas gravadas, entre elas Tá danado de bom, Pagode russo e Deixa a tanga voar.
Também gravararam músicas do forrozeiro Marinês, Trio Nordestino, Elba Ramlho,
Ney Matogrosso, entre outros.

                                  

João Silva foi
homenageado no São João de Arcoverde em 2012, sua terra natal, aonde nasceu na
comunidade rural de Caraíbas. A prefeita Madalena Britto (PTB) decretou luto oficial
de 3 dias pela morte de um dos nomes artísticos mais importantes da história da
Capital do Samba de Coco. Autor da famosa música “Arcoverde Meu”
imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, João Silva era a cara da cultura de seu
povo, do povo nordestino. Para a prefeita Madalena, a cultura e a música
arcoverdense e nordestina fica mais triste, pois perde um dos grandes poetas da
cantoria, dos versos e da garra nordestina. O ex-prefeito Zeca Cavalcanti,
exaltou a força das músicas do cantor que nunca esqueceu seu “torrão”
natal e fez, através da música e da parceria com Luiz Gonzaga a sua melhor
forma de expressar e cantar o lamento e a riqueza cultural do Nordeste.
Ainda não há
informações sobre o velório e enterro de João Silva. Alguns familiares querem
promover seu velório e sepultamento em Arcoverde, mas nada ainda está decidido.

                               

Vejam a história do
mestre João

Um dos principais
parceiros de Luiz Gonzaga a partir dos anos 1960. Aos 17 anos mudou-se para o
Rio de Janeiro com uma carta de recomendação de João Calmon. Apresentou-se no
programa “Domingueira” apresentado por Arnaldo Amaral na Rádio
Mayrink Veriga onde cantou “Crepúsculo sertanejo”, de sua autoria. Em
1964, Luiz Gonzaga gravou no disco “A sanfona do povo” o baião
“Não foi surpresa”, de sua parceria com João do Vale. Em 1965, o Rei
do Baião gravou dele e Albuquerque a marcha junina “Piriri”. Em 1966
gravou “Crepúsculo sertanejo”, dele e Rangel. No mesmo disco,
“Óia eu aqui de novo”, aparece sua primeira parceria com Luiz
Gonzaga, “Garota Todeschini”. Em 1968, no LP “São João do
Araripe”, aparecem duas composições da parceria entre os dois, “Lenha
verde” e “Meu Araripe”, que se tornou um enorme sucesso.
Em 1973, no LP
“Nova Jerusalém”, Luiz Gonzaga gravou “O vovô do baião”
dele e Severino Ramos . Em 1974, Bastinho Calixto gravou dele e Anatalício a
composição “Laura”. Em 1978 compôs com Gonzaga “Umbuzeiro da
saudade”. Em 1979 compôs com Pedro Maranguape “Adeus a
Januário”, em homenagem ao pai de Luiz Gonzaga recentemente falecido. Em
1980, compôs com P. Maranguape a composição “Cego Aderaldo”, gravada
por Luis Gonzaga. Em 1983, no disco “70 anos de sanfona e simpatia”,
Luiz Gonzaga gravou três de suas parcerias, “Cidadão sertanejo”,
“Forró de Ouricuri” e “Sequei os olhos”, esta uma pungente
canção sobre a seca que assolou a região nordestina entre 1979 e 1983.
Em 1984 compôs com Luiz
Gonzaga o forró “Pagode russo”, regravado nos anos 1990 pelo grupo
Mastruz com Leite. Em 1984, no LP “Luiz Gonzaga e Fagner”, a
composição de abertura do disco é “Sangue nordestino”, outra parceria
de suas parcerias com Gonzaga. Em 1985 no LP “Sanfoneiro macho”, o
Rei do Baião gravou seis composições de parceria com João Silva, entre as quais
“A mulher do sanfoneiro”, além de “Maria baiana” de sua
parceria com Zé Mocó e “Amei à toa” com Joquinha Gonzaga. Em 1986
compôs em parceria com Luiz Gonzaga “Forró de cabo a rabo”, que deu
nome ao disco de Gonzaga daquele ano e no qual aparecem mais duas parcerias
entre os dois e ainda “Xote machucador”, parceria com Dominguinhos, e
“Passo fome mas não deixo”, em parceria com Zé Mocó. No mesmo ano,
Marinês em seu LP “Tô chegando” gravou dele e Luiz Gonzaga “Tá
virando emprego”, e dele e Zé Mocó “Amigo velho tocador”. Em
1987, mais uma de suas composições, “De fia pavi”, feita em parceria
com Oseinha, deu nome a um disco de Luiz Gonzaga, no qual aparecem ainda
“Doutor do baião”, “Pobre do sanfoneiro” e “Toca
pai”, três parcerias suas com o Rei do Baião. No mesmo ano, Marinês gravou
no LP “Balaio de paixão” sua parceria com Chico Xavier “Danação
de gamação” e dele, Maranguape e Iranilson, “Olhos duidinhos”.
Em 1988 compôs com Luiz Gonzaga “Pra que mais mulher”, “Fruta
madura” e “Outro amanhã será”, todas gravadas no LP “Aí tem
Gonzagão”.
Em 1989, uma composição
de sua parceria com Luiz Gonzaga, “Vou te matar de cheiro”, deu
título ao último disco do Rei do Baião, no qual João Silva participou da
gravação de três faixas, “Um pra mim, um pra tu” e “Arcoverde
meu”, em parceria com Gonzaga, e “Ladrão de bode”, com Rui
Moraes e Silva. Ao todo compôs mais de 30 músicas com Luiz Gonzaga, todas
gravadas pelo Rei do Baião. Teve ainda composições gravadas com sucesso pelo
Trio Nordestino, entre as quais “Estou roendo sim”, em parceria com
Anatalício, “No galpão da bulandeira” com K-boclinho,
“Intupidinho de amor” com J. B. de Aquino e “Gamado até
demais” com Sebastião Rodrigues. Dominguinhos gravou, “Pode morrer
nessa janela”, “O galo já miudou” e “Cintura de
abelha”.
Tem cerca de 2000
composições. Entre seus parceiros estãoJoão do Vale, Onildo Almeida, Rosil
Cavalcante, Severino Ramos, Bastinho Calixto, Pedro Maranguape, Zé Mocó, Pedro
Cruz, Dominguinhos, Sebastião Rodrigues e outros. Entre seus principais
sucessos estão “A mulher do sanfoneiro”, “Danado de bom”,
“Pagode russo”, “Nem se despediu de mim”, “Meu
Araripe”, “Uma pra mim outra pra tu” e “Pra não morrer de
tristeza”, que já teve cerca de 40 gravações. Como produtor, produziu
discos de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Jackson do Pandeiro entre outros.
Atuou também como arranjador. Em 2006, o coco “Como tudo começou”, de
sua autoria, foi gravado por Dominguinhos, no CD “Conterrâneos”. Em
2012, participou da coleção tripla de CDs “Pernambuco forrozando para o
mundo – Viva Dominguinhos!!!”, produzida por Fábio Cabral, cantando a
música “Bodo bodocó”, de sua autoria com José Maria Marques. A
coletânea trouxe forrós diversos interpretados por 48 artistas, e que fazem
referência aos 50 anos de carreira do seu inspirador: Dominguinhos.
Interpretando músicas de compositores em sua grande maioria pernambucanos,
fizeram parte do projeto também artistas como Acioly Neto, Adelzon Viana, Dudu
do Acordeon, Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Irah Caldeira, Liv Moraes, Hebert
Lucena, Geraldo Maia, Sandro Haick, Spok, Jefferson Gonçalves, Chambinho,
Joquinha Gonzaga, Maciel Melo, Luizinho
Calixto, Silvério Pessoa,
Walmir Silva, entre outros, além do próprio Dominguinhos.    

Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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