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Filha de exuense Flávia Saraiva é principal aposta da ginástica artística na Olimpíada Rio 2016

 

Os sonhos de gigante de Flávia Saraiva, 16, gravitam em torno de um corpo de 1,35 m moldado com 12 horas diárias de treinamentos nos mais variados aparelhos que estabelecem a rotina da ginástica artística.

Tida como a mais promissora da nova geração feminina, a carioca revela a voz de criança em um primeiro contato, mas desfaz a equivocada aparência inicial ao revelar suas ambições de adulto.

“Estou pronta para ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio”,diz.

Nos últimos sete meses, Flávia só melhorou. Obteve notas altas na trave, ganhou dois ouros na etapa de Baku (Azerbaijão) da Copa do Mundo e surge como principal nome do grupo brasileiro.

Por trás desta badalação está uma ginasta determinada e que há dois anos obtém resultados e atrai holofotes.

Ela estourou em 2014, quando conquistou três medalhas na Olimpíada da Juventude de Nanquim (China).

No ano passado, firmou-se na seleção com pódios no Pan de Toronto (Canadá) e em etapas da Copa do Mundo.

BRAVURA

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Flávia começou na ginástica com 8 anos, mas aos 13 botou fé de vez na trajetória esportiva. Foi quando passou a dominar os fundamentos da trave, hoje sua maior especialidade ao lado do solo.

Seu equilíbrio no aparelho acabou facilitado por causa de sua baixa estatura. “Nunca tive medo da trave. É questão de costume”, conta.

A bravura chamou a atenção da técnica Georgette Vidor, que orientou ginastas de renome como Luisa Parente e Daniele Hypolito e pinçou Flávia —hoje, Georgette coordena a seleção feminina.

Ambas se uniram em um projeto que a treinadora comandou em Três Rios, no Estado do Rio, entre 2012 e 2014.

“Morar longe da família foi um aprendizado. É difícil, mas após um mês acostumei”, diz a ginasta, que matava a saudade pelo celular.

Entre outras idas e vindas, Flávia aterrissou novamente no Rio para treinar no centro de treinamento que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) inaugurara no início de 2015.

A instalação fica anexa à Arena da Barra. A casa nova viu surgir uma Flávia ainda mais comprometida. “Ela sempre foi muito focada. Sempre treinou muito. É a primeira a chegar e última a sair”, afirma o treinador dela, Alexandre Carvalho.

Na avaliação do técnico, no caso de sua pupila, a transpiração sobrepõe a vocação.

“Não que ela não tenha talento. Mas o diferencial é se dedicar. Se ela mantiver a consciência de que tem de trabalhar mais que todas, a chance de bons resultados é grande”, afirma o treinador.

BOB ESPONJA

Dos sete dias da semana, ela treina em seis. Às vezes, abre mão até do único dia de folga, aos domingos.

Ela e os pais, João e Fabia, e o irmão mais novo, também João, moram em um condomínio nos arredores do futuro Parque Olímpico da Barra.

Flávia acorda às 7h e antes das 8h está na arena —apesar da proximidade, é difícil ir ao local sem carro, devido às obras no Parque Olímpico.

Ela e outras meninas da seleção começam de pronto o treino, que se estende por toda a manhã.

Entre 13h e 16h, Flávia e outras três atletas deixam os collants de lado e empunham lápis e caneta para estudar. Dentro do ginásio, duas professoras se revezam.

“É jogar uma água no rosto e ir em frente, para não dormir”, brinca. Ela cursa o 3º colegial, já de olho em uma faculdade de fisioterapia.

Trinta minutos após o fim dos estudos, o quarteto volta a aperfeiçoar elementos no tablado ou nos aparelhos. O dia termina apenas às 20h, após sessão de fisioterapia.

Aos sábados, o expediente vai de 8h até as 13h. Flávia “agradece a Deus” por nunca ter se lesionado, mesmo diante de tanto treinamento.

Nas poucas horas em que se desliga da ginástica, ela volta a atenção à família.

Mas, confessa, em clara evidência de seu jeito pueril, que gosta de ocupar-se com desenhos. “Geralmente, durmo no sofá vendo”, entrega. O preferido? “Bob Esponja.”

Ela também afirma que muita gente duvida de sua idade. “O que mais ouço é ‘nossa, você é tão pequenininha! Quantos anos você tem?’ Respondo e falam ‘mentira!'”

Admiradora das norte-americanas Gaby Douglas e Simone Biles, ela “puxa a orelha” de quem a tem como ídolo. “Algumas meninas disseram ‘quero ser igual a você’. Eu logo falo ‘você tem que ser melhor que eu'”, afirma.

Humildade à parte, Flávia já tem seu espaço. Mais do que medalhas e a condição de xodó da ginástica nacional, já capitaliza com o sucesso —tem seis patrocinadores.

Em março, foi apresentada como reforço do Flamengo. Com o dinheiro, quer comprar apartamento e carro, embora ainda reste tempo para tirar a carteira de motorista. “São planos, mas a prioridade é treinar”, afirma.
“Estou confiante”, ela diz, com voz de menina e foco de uma gigante. De 1,35 m.

Damião Sousa
Damião Sousa
Diretor de Jornalismo e Marketing
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