InícioAraripina em FocoMargareth Dalcolmo: É 'estratégico' vacinar crianças menores de 5 anos

Margareth Dalcolmo: É ‘estratégico’ vacinar crianças menores de 5 anos

Embora tenha como “grupos de risco” idosos e adultos com comorbidades, a Covid-19 também causa sérios impactos entre os mais novos. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), só nos dois primeiros anos da pandemia, o País perdeu 1.439 crianças menores de 5 anos, o que representa uma média de duas mortes por dia nessa faixa etária.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), relembra a importância da vacinação contra doença, que, desde o dia 18 de julho, está liberada para o público de 4 anos no Estado.

Pernambuco começou a vacinar crianças de 4 anos depois que a Anvisa autorizou o uso da Coronavac para essa faixa etária. Você já defendeu que o Estado reforçasse a vacinação infantil como ação estratégica contra a disseminação da pandemia por aqui. Qual a sua avaliação sobre isso hoje?

Eu considero absolutamente estratégico que nós consigamos vacinar as faixas etárias pediátricas. Por duas razões. Primeiro, no Brasil, a mortalidade por Covid-19 nas faixas etárias pediátricas, inclusive de crianças pequenas, que não estavam cobertas pelo processo de vacinação até muito recentemente, foi muito alta. A doença não poupou as nossas crianças, que não só adoecem como a transmitem. As curvas [de contágio e mortes] da população pediátrica no Brasil são muito assustadoras.

O Brasil perdeu muitas crianças para a Covid-19. É fundamental que os adolescentes já tenham sido vacinados e que as crianças menores – e muitas delas estão frequentando o ambiente escolar – sejam vacinadas. Segundo, nós estávamos esperando a liberação dos estudos com a vacina de vírus inativado, a CoronaVac, e o estudo do Chile, como nós esperávamos, mostrou um resultado de proteção bastante considerável, de modo que é correta a decisão da aprovação regulatória por parte da Anvisa.

A vacinação das crianças tem que ser estimulada e, mais do que isso, as famílias, nocivamente contaminadas por informações deseducadoras de que as vacinas não fazem bem ou não têm efeito, têm que ser esclarecidas por nós, médicos, pediatras, pneumologistas, todos os especialistas e cientistas, mostrando que a vacina não só é benéfica como confere proteção.

O imunizante autorizado pela Anvisa foi a Coronavac. Quais as particularidades dessa vacina para a faixa etária infantil? Devemos esperar que os outros imunizantes, como a Pfizer pediátrica, sejam liberados?

A gente deve esperar que sim. A Pfizer já está liberada para a população acima de 5 anos, com uma dose reduzida. Porque a vacina de RNA mensageiro (como é a da Pfizer) tem uma dose de um terço de concentração para as crianças, de acordo com o peso e a idade. Ela é formulada de maneira especial para a faixa etária pediátrica. E a CoronaVac é a mesma que os adultos recebem. As crianças recebem muitas vacinas de vírus inativado.

Tivemos recentemente um ciclo de alta na transmissão da Covid-19. Como está a situação da pandemia agora? O que podemos esperar para os próximos meses?

Esta cepa [da Ômicron] circulante, a BA.5, já é predominante no Brasil, representando aproximadamente 93% dos testes com positividade detectada, de acordo com os estudos conduzidos pela Fiocruz. E ela tem bastante escape vacinal, ou seja, contamina pessoas que estão vacinadas. Mas isso não significa que não é para vacinar. O objetivo da vacina não é impedir a transmissão, mas interferir nos casos graves, mortes e hospitalizações. Quem está internado hoje é quem não foi vacinado ou é portador de uma condição imunológica grave. 

Podemos vislumbrar algum momento em que a pandemia acabe?

Sim, mas não podemos fazer conjecturas. Está aparecendo, praticamente, uma variante de preocupação a cada duas semanas. Nós precisamos ter agora uma segunda geração de vacinas, que está em produção. Algumas fabricantes, como a Moderna e a Pfizer, já estão produzindo as vacinas de segunda geração. São as vacinas que estão fabricadas com a proteína Spike da cepa Ômicron, não mais da cepa ancestral, de Wuhan, com a qual foram feitas todas as vacinas que usamos até hoje.

Então, nós devemos precisar de novos reforços após a quarta dose?

Provavelmente, sim. Nós devemos precisar de uma nova geração de algum reforço, a chamada quinta dose.

Nos últimos dias, temos visto também o surto de varíola dos macacos crescer no País. Até que ponto devemos nos preocupar? Isso pode trazer alguma interferência para a emergência da Covid?

Não acho que a varíola dos macacos vá causar colapso no sistema de saúde. Não há razão para pensarmos nisso até o momento. É diferente de uma pandemia como foi a Covid-19 nos seus momentos mais agudos.

O ano eleitoral e o aparecimento de outras crises sociais desviam a atenção do combate à pandemia. Qual alerta devemos fazer às pessoas para não relaxarem nos cuidados de prevenção à Covid-19?

Nunca os cuidados ditos não farmacológicos foram tão importantes. Eu continuo, particularmente, usando máscara o tempo todo quando saio de casa, em ambientes fechados. Máscaras são fundamentais para controlar a transmissão. Foi um erro a liberação das máscaras em ambientes fechados, ao meu juízo.

Fonte: Folha de Pernambuco.

Allyne Ribeiro
Allyne Ribeirohttps://araripinaemfoco.com
Diretora de Edição e Redação de Jornalismo
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